domingo, 28 de dezembro de 2008

Coluna "Que TAL viver?" Silêncios e Palavras


Na palavra, a comunicação se realiza. No silêncio, ela se completa. Pois a compreensão se concretiza a partir do silêncio. Há poder em ambos, e a sabedoria é usar bem esses dois tempos da comunicação.

Dentro de uma composição as pausas são tão importantes quanto os sons. Uma boa orquestra é aquela que executa bem as dinâmicas das pausas e das continuidades. Mesmo no silêncio da pausa a canção continua.

Não diga as coisas com pressa. Mais vale um silêncio certo, que uma palavra errada. O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade recomendava aos poetas:

“Convive com os teus poemas antes de escrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra e seu poder de silêncio.”

A recomendação do poeta é sábia e pertinente. Um poema só é bem, só é bom, se maturado na sementeira do silêncio. Antes de se tornar palavra, a poesia é experiência de vida silenciosa. Os artistas sabem disso, e nós precisamos aprender.

Demora naquilo que você precisa dizer. Livre-se da pressa de querer dar ordens ao mundo. É mais fácil a gente se arrepender de uma palavra dita, que de um silêncio. Palavra errada na hora errada pode se transformar em ferida naquele que ouviu, também naquele que disse.

Há muitos momentos da vida em que o silêncio é a resposta mais sábia que nós podemos dar a alguém. Na pressa de falar, corremos o risco de dizer o que não queremos, e diante de tudo que foi dito, nem sempre temos a possibilidade de consertar o erro.

Palavras erradas costumam machucar para o resto da vida, já o silêncio certo, esses possuem o dom de consertar. Por isso, prepara bem a palavra que será dita. Palavras apressadas não combinam com sabedoria.

Os sábios sempre preferem o silêncio. E nos seus poucos dizeres está condensada uma fonte inesgotável de sabedoria. Não caia na tentação do discurso banal, da explicação simplória. Queira a profundidade da fala que nos pede calma. Calma para dizer. Calma para ouvir.
Uma regra interessante, para que tenhamos uma boa compreensão de um texto, é justamente a calma. Só assim podemos adentrar nos significados que o autor quis sugerir e, conseqüentemente, mergulhar no mistério do seu texto.

Leituras apressadas podem fomentar equívocos, e equívoco é uma espécie de desentendimento entre o que se escreve e aquele que lê. É uma forma de obstáculo para a compreensão da linguagem.

Na comunicação verbal cotidiana, isso sempre acontece. Dizemos, e não somos compreendidos. Diante do impasse, duas realidades são possíveis: ou alguém disse com pressa, ou alguém escutou sem atenção. Dizer e ouvir requerem silêncio.

Só diz bem, aquele que pensou antes no que iria dizer, e ouve melhor aquele que se calou para escutar. A regra é simples, mas exigente.
Por isso, hoje, nesse tempo de palavras muitas, queiramos a beleza dos silêncios poucos.


Padre Fábio de Melo
Coluna "Que Tal Viver?"
TAL Revista nº 4, nov/dez 2008



2 comentários:

  1. Perfeito!
    Por isso eu digo que as pessoas quando se calam, estão tendo sabedoria pois, não querem falar por impulso, elas se preocupam em pensar nas palavras certas para serem ditas nas palavras certas e às pessoas certas!

    Beijos

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  2. "Bem aventurado sereis se suas palavras forem suaves como o silêncio" Que Deus continue a frutificar o silêncio em suas palavras.Muita Luz!

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