segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Matéria da Revista Domingo do Jornal do Brasil

"Deus prefere os piores. E eu também.
Afinal, ele é a matriz, eu sou mera filial"



Ele lota casas de shows, praças, ginásios, e faz uma média de 10 apresentações por mês, nos quatro cantos do Brasil. Na platéia, um público essencialmente feminino que não sabe se grita, chora ou fotografa cada lance. No palco, um homem de sorriso largo, voz suave e afinada, olhar doce, cabelos negros, roupas bem cortadas. Bonito. Um charme. Entoa um repertório que o público sabe de cor, frase a frase. Alterna composições próprias e regravações de nomes consagrados da MPB em sua vertente romântica, popular.

Só que ele não é um galã. É um homem de Deus. Padre Fábio de Melo é o novo fenômeno da música religiosa. Tem onze discos lançados, o último, Vida, distribuído pela major Som Livre, vendeu, sozinho, mais de 540 mil cópias em quatro meses - marca que, no Brasil, não é, nem de longe, atingida pelas bandas de pop rock ou pela maioria dos artistas populares. Nos shows, sua missão é arrebatar o coração da platéia, tocar fundo na alma. Com todo respeito, já que suas fãs, são, literalmente, fiéis. Só que o padre é um gato e, se alguma delas, mais saidinha, incorrer algum pecado, pode pelo menos, pedir o perdão ali mesmo.

Ordenado em 2001, tem 37 anos, mestrado em teologia, e não usa batina. Sabe que é um cara boa-pinta, acha a beleza importante - como cuidado com o corpo e a saúde - mas não incorre no pecado da vaidade. Acredita que os fiéis não confundem sua figura com a de uma celebridade mundana, um ator de novela, e não tem conflitos com sua aparência, nem quando adota o vizoo jeans e camiseta descolada: "O mais importante em mim é o que eu tenho a dizer. É o que anuncio", decreta.

Celebridade de Deus
O padre-cantor, mineiro da pequena cidade de Formiga, estabelecido em Taubaté (SP), escolheu o Canecão, no Rio, para gravar seu primeiro DVD, nas próximas terça e quarta-feiras, show para os quais restam poucos lugares.

A direção é de um bamba do showbiz, Túlio Feliciano, que assina espetáculos de artistas como Zeca Pagodinho e Beth Carvalho.

A carreira musical de Padre Fábio começou em 1997, com discos lançados pela acanhada Edições Paulinas. Passou para a gravadora LGK Music e em 2008, assinou contrato também com a Som Livre, rompendo a barreira do selo segmentado.

Sua voz e rosto passaram a ser vendidos em cadeia nacional, em comerciais nos dois principais canais de TV, Globo e Record, e até na MTV. Não que precisasse desta mídia toda para ser famoso. Ele é uma celebridade católica e está a passos de alcançar a popularidade de outro líder carismático, Padre Marcelo Rossi. Este porém, arrebanhou multidões tentando travestir a imagem do padre amigo e conselheiro numa figura jovem e bem-humorada. Mas ainda atrelada à tradição.

Fábio de Melo, diferentemente, parece querer trazer fiéis para a igreja mostrando que o padre é um homem comum. "Ainda não sei se a imagem do padre mudou. Estou no meio do turbilhão." Ele acredita que é preciso tempo para saber se o que propõe, de fato, faz efeito. "Eu espero que sim, mesmo porque a maior urgência que temos como igreja é buscar os novos métodos para que o Evangelho não pare."

Vocação para arte
Suas apresentações não são missas, são shows comuns e ele defende que seja assim. Compositor, poeta, professor universitário, autor de cinco livros, assume seu trabalho como artístico. "Arte é ofício que não dispenso. Religião é arte, afinal trabalha o tempo todo com a linguagem sensível. Os ritos litúrgicos são verdadeiros locais da beleza." O grande problema, acredita, é que nós os racionalizamos demais. O rito ficou explicativo, didático. No momento em que canta, ele diz que se expõe como proposta reflexão que tem o poder de mudar a atitude humana. "Há pessoas que saem dos shows com o desejo de serem melhores. Pronto. A religião cumpriu seu objetivo".

Como se vê, além da estampa, Padre Fábio fala muito bem. "Deus prefere os piores porque o projeto é de melhorias. A restauração ainda é prioridade diante da construção. Foi justamente por pensar assim que Jesus morreu. E eu também. Afinal, ele é a matriz. Eu sou mera filial."

Uma filial de sucesso. O caçula de uma costureira e de um pedreiro que adorava uma viola manifestou a vocação quando ainda era criança. Adolescente, entrou no seminário e, aos 27 anos, lançou o primeiro disco. Cursou duas faculades, Filosofia e Teologia, aos 30 foi ordenado na igrea de sua cidade natal, diante da comunidade que o viu crescer. Desde então, a carreira de padre e a de cantor caminham juntas. Ao todo, vendeu quase 800 mil cópias - e a entrada para o casting de uma grande gravadora deve, certamente, fazer esse número se multiplicar nos próximos anos. O segmento religioso parece não sofrer qualquer marola da crise que assola a indústria fonográfica. "As pessoas estão necessitadas de uma palavra que lhes faça bem. Eu, particularmente acredito na díade reflexão e fé. E creio, sobretudo, no poder que a arte tem de viabilizar esta reconciliação".

"Qual é a vaidade mais nociva?
A que está exposta na roupa, ou a que está impressa na alma?"


Flashes e fama
Fábio conquistou fãs e, provavelmente, converteu muitos deles, mesclando a música religiosa à música popular - em especial nomes como Fábio Jr. e Lulu Santos. A balada Apenas mais uma de amor (aquela do verso "O que eu ganho, o que eu perco, ninguém precisa saber") é um dos seus hits. Nos shows, geralmente no bis, é o momento em que pára e traça um paralelo entre o sofrimento do amor romântico e a dor do Cristo crucificado - o amor incondicional d equem não pede nada em troca e muitas vezes não é correspondido. A mulherada chora copiosamente. Faz fila na porta do camarim.
A agenda intensa quase fez o padre perder a voz no ano passado. Sua presença já está se tornando freqüente nos programas femininos da tarde. "Não é confortável ser famoso, mas não há outro jeito. O grande problema da fama é que ela fomenta projeções. Há pessoas que me imaginam melhor do que sou e há pessoas que me imaginam pior. Sou vítima em ambos os casos", admite ele, que corre do estereótipo da celebridade fortuita. "Já vi muitas pessoas famosas se perderem nestas projeções. Não quero isso pra mim. Não quero ser liquidado pela exposição. A melhor forma de ação é me sentir cada vez mais comprometido com as razões de minha fama. Sou padre e o que me expõe é a minha maneira de evangelizar".


Sem paróquia fixa, Fábio de Melo confessa a necessidade de sair periodicamente dos holofotes. Nos lugares em que a internet - ele mantém linha direta com fiéis por meio de seu site, alimenta um blog e seus vídeos tem milhares e milhares de acessos no Youtube - a TV ou o rádio não vendem sua imagem, ele volta à simplicidade do ministério. "A exposição midiática me aproxima muito dos fiéis, mas ela não me basta. Não sou padre de laboratório". Nem tampouco quer se reduzir ao cumprimento de uma agenda de eventos. "É muito bom celebrar ritos com pessoas que nem imaginam quem sou eu. Não há nada mais desgastante que máquinas fotográficas".

"Essa história de padre galã é coisa de mídia.
Estudei muito para ser quem sou"

Sagrado e profano
A gravação do DVD, por sua vez, só aumenta tal exposição, e certamente vai contribuir para ampliar sua popularidade no Rio de Janeiro, onde ainda não é tão conhecido como em São Paulo, Minas e Nordeste. "Nada pode ser comparado ao Norte e Nordeste do país. Os eventos cristãos naqueles cantos do Brasil são de uma grandiosidade que eu não ouso descrever. Tenho medo de empobrecer a verdade", exagera.


Antes mesmo de novo produto ficar pronto, Fábio de Melo põe no mercado três volumes de uma coletânea em que interpreta clássicos do cancioneiro popular, como Romaria e Fogão de lenha. "Escolhi recolher no mundo o que é naturalmente belo e bom. Há algumas canções de autores consagrados de nossa música popular brasileira que quando termino de cantar tenho vontade de liturgicamente anunciar: Palavra da Salvação!".


No último disco de estúdio traz duas famosas canções de Fábio Jr. A faixa-título, Vida, e o sucesso Pai. Não é pecado algum regravar músicas de um dos mais cobiçados cantores do país, embora isso arranque gritinhos da platéia. "Eu não carrego comigo a pretensão de que o Sagrado pertence aos denominados religiosos. Há compositores que não estão comprometidos com a evengelização formal, institucional, e que são muito mais competentes que nós para tratar dos valores que anunciamos", constata.

Beleza e vaidade
Por mais que queira evitar a admiração pelo homem no lugar do sacerdote, Padre Fábio conhece bem o mundo e o meio em que vive, absolutamente midiático. Reconhece, sem pestanejar, o apelo da boa aparência. "Creio que a questão da beleza está cada vez mais urgente nos nossos dias. Não me refiro ao contexto redutor da beleza estética, esta que movimenta uma infinidade de discursos rasos e desnecessários. O ser humano precisa ser cuidado, definitivamente. Nisso consiste o desdobramento da criação".


Para o padre, segmentos do cristianismo anularam o que é belo, associando o conceito ao pecado da vaidade. "Isso não é justo. Ser bonito não é sinônimo de vaidade desregrada. A feiúra no mundo não é garantia de santidade. Não mesmo".


E a vaidade, padre? Ele responde com outra pergunta: "Qual é a vaidade mais nociva? A que está exposta na roupa, ou a que está impressa na alma?"


O discurso do sacerdote deixa claro que ele exige respeito e não quer ser visto como um rostinho bonito. "Essa história de ser anunciado como padre galã é coisa de mídia que gosta de notícia rápida. Estudei muito para ser quem eu sou".




O padre é pop
Capazes de tudo para chegar ao palco, fãs assistem a shows até de joelhos


A última apresentação do Padre Fábio de Melo em 2008, realizada no dia 22/12, reuniu 2.700 pessoas no auditório do Centro de Convenções Ulisses Guimarães de Brasília - número muito expressivo para uma capital federal que já está deserta.


A casa estava com lotação esgotada, mas na primeira fila, dava para contar o número de homens nos dedos. De uma única mão: eram apenas cinco benditos-frutos. Tal qual nas missas, bastou o padre entrar no palco, para o público, formado principalmente por mulheres, ficar de pé. Gritavam o nome dele sem parar, disparando flashes freneticamente.


O repertório é formado de músicas católicas, interrompidas por sermões curtos e alguns hits da música popular. O padre conversa, faz piadas. Ninguém desgruda os olhos. Dezenas de mulheres ocupavam todo e qualquer espaço livre nos corredores. permaneceram agachadas ou sentadas no chão para ficar mais perto do ídolo. Ídolo?


Maria Fonseca foi uma delas. Segurava duas câmeras: com uma tirava fotos e com a outra gravava trechos do concerto. Casada, com 33 anos, acompanha a carreira de Fábio de Melo há seis meses. "Fiquei doida com ele, comprei todos os livros e CDs. Assisto a todos os vídeos no Youtube", conta. Ela confessa que vive um conflito grande e que se sente culpada. "Não tem jeito, ele é muito lindo, perfeito. Não tem como lembrar Jesus quando vejo ele".


Muita gente estica os braços para tocá-lo, entregar presentes: bilhetes, bichinhos de pelúcia, garrafas d'água. Esperando uma benção? Talvez. Berenice Ribeiro da Silva, uma senhora de 67 anos, conseguiu receber o cumprimento do padre, sentiu o corpo inteiro tremer. "Ele tocou a minha mão!", dizia, sem acreditar.


(Lia Kunzler)




6 comentários:

  1. Gostei muito da matéria por causa das respostas do padre Fábio. Em especial aquelas mais polêmicas. Só que infelizmente a gente tem de engolir essas madames desiquilibradas que só notam a aparência. O pe. Zezinho em sua juventude foi taxado de padre galã. Se vestia como os jovens de sua época.

    O meu consolo é que essa histeria passará. Ficarão só aquelas que se lembrarem de Jesus ao ouvir o padre falar, pois ele não tem outro objetivo ao não ser anunciar Jesus Cristo. E como ele mesmo disse no Direção Espiritual: "Só vou onde Jesus puder ir comigo, do contrário prefiro ficar em casa."

    Que Deus o abençoe, o fortaleça e o proteja!

    Ele é precioso demais e muitos o banalizam. Infelizmente.

    OBRIGADA POR POSTAR A MATÉRIA!

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  2. Realmente Pe Fábio é um pessoa ungida e de mta sabedoria.Suasrespostassão precisas elegantes e deixam bem claro sua maneira de ver todosucesso que está tendo sem esquecer do JESUS que ele anuncia de uma forma tão convicente e misericordiosa.Ser lindo não é pecado,com certeza jesus era lindo ,sarado e vivia no meio do povo sem escolher ,ia aonde dele precisavam e era tbém um sucesso e pagou caro por isto.Queira Deus que o nosso padre seja livre do ciúme, inveja assédio,perseguições e que continue no meio evangelizando também as pontas.

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  3. A reporter redatou sobre as mulheres histericas, mas ao mesmo tempo se juntou a elas complementando a reportagem com comentarios dispensaveis.

    A beleza interna dele eh bem maior d que a que vemos. O medo que tenho é q o seu trabalho o deixe cansado e pouco reflexivo.
    Q DEus o proteja sempre.Amém.

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  4. oBRIGADO CARLINHA POR NOS MANTER INFORMADOS A RESPEITO DA CAMINHADA EVANGELIZADORA DE PADRE FABIO E DESTA FORMA VC TAMBÉM ESTÁ EVANGELIZANDO.QUE DEUS A ABENÇÕE MTO.

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  5. Não gostaria que este comentário ficasse postado, mas acho que se vc não conhece deveria conhecer o blog tradição católica , pois vc é uma pessoa que domina bem aarte da computação, e com certeza ficará horrorizada com o que vai ler.Fique com Deus e apague esta mensagem,para não haver divulgação e dar IBOPE para uma coisa que não vale a pena,mas está na internet.

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  6. PADRE FABIO ESTEVE EM MINHA CIDADE DIA 14/11/2011.
    FEZ O SHOW EMBAIXO DE CHUVA FORTE ,FIQUEI MUITO IMPRESIONADA C/ELE .
    ELE NASCEU P/ ILUMINAR .
    QUE DEUS O ABENÇOE SEMPRE

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