Padre, popstar e conteúdo
Com uma bela estampa, discurso consistente e carisma de sobra, Fábio de Melo conquista fiéis (e fãs)
Renata Cabral
Revista Isto É
14/01/2009
De tão bonito ele pode ser confundido com um galã de novela. Este é o primeiro atributo que faz com que Fábio de Melo provoque comoção por onde passa. O segundo é que ele é um cantor popular. E o terceiro: é um padre com um discurso consistente e fundamentado, diferente da maioria dos seus colegas de cantoria religiosa. Tudo junto resulta em muito sucesso, impulsionado por fãs e pelo rebanho católico, que se misturam numa mesma massa sedenta por suas palavras e canções. Mineiro de Formiga, o padre-cantor, 37 anos, está prestes a superar a marca de 600 mil cópias vendidas com seu último álbum, Vida, lançado há quatro meses por uma parceria entre as gravadoras LGK Music e Som Livre. Na semana passada, ele fez dois shows para a gravação do DVD Eu e o tempo, no tradicional Canecão carioca, com lotação esgotada. A julgar pelo semblante extasiado dos presentes, ao final, Deus deve ter ouvido muitos agradecimentos.
A multidão que padre Fábio está se acostumando a ver em seus shows não se repete nas igrejas, mas o motivo é simples: ele só celebra missas em pequenos templos da pastoral universitária da diocese de Taubaté, no interior de São Paulo, da qual é responsável. Mas o religioso não se resume a um belo rosto e uma bonita voz. Ele é graduado em teologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e em filosofia (pela Fundação Educacional de Brusque, em Santa Catarina). É pós-graduado em educação na Universidade Salgado de Oliveira, no Rio, e mestre em teologia sistemática pelo Instituto Santo Inácio de Loyola, de Belo Horizonte (MG). Tanto investimento nos estudos já resultou em cinco livros. “Eu sabia que para ser comunicador tinha de ter conteúdo. O que fiz primeiro foi estudar. Sou professor de teologia e digo isso sem nenhuma vaidade, isso é responsabilidade”, afirma. “Dentre as várias expressões da música católica, o padre Fábio se destaca porque lança um olhar particular sobre a teologia, passando a mensagem de um Deus mais humano. Sua formação acadêmica, aliada à sensibilidade artística, distingue seu trabalho”, diz o padre Gleuson Gomes, da paróquia de Sangue de Cristo, no Rio.
O sacerdote diz que a música é sua forma de evangelizar e conquistar fiéis, tal e qual padre Marcelo Rossi, expoente máximo de sucesso católico no Brasil, com quem é comparado, assim como com o cantor Fábio Jr. “Não me importo com as comparações, admiro o trabalho dos dois”, diz o sacerdote, que, ao contrário de Marcelo Rossi, não usa vestes sacerdotais nos shows.
O frisson causado entre as mulheres é um problema para o padre, que rejeita o título de galã. “Incomoda ser reduzido a isso. Por outro lado, não tenho como fugir, por enquanto.” Padre Fábio entrou para o seminário aos 16 anos, foi ordenado aos 31 e não nega os namoricos da época de escola. Mas jura que o assédio, hoje, acontece muito mais no mundo virtual (por meio de blogs e comunidades de fãs). “Se eu fiz a opção por viver uma vida de castidade, e tenho alguns atributos que dificultam essa escolha, tenho de ter responsabilidade ainda maior”, reflete.
Após dez CDs lançados, a parceria com uma gravadora fora do segmento religioso representou um salto nas vendas. Líber Gadelha, presidente da LGK Music – onde padre Fábio é hoje o artista campeão de vendas –, arrisca uma justificativa. “Bíblia por si só não vende disco. O sucesso vem do pacote: carisma, bela voz e uma produção caprichada.” Para o professor de teologia da PUC de São Paulo, Fernando Altemeyer, arte e religião nunca foram incompatíveis, mas “a exposição midiática pode levar à captura apenas do símbolo que transmite a mensagem e fazer com que o conteúdo desapareça.” A estudante Beatriz Rodrigues, 17 anos, que saiu de Barretos, São Paulo, para assistir a um show no Rio, jura que foca o conteúdo: “Ele é bonito. E muito. Isso ajuda, mas o que mais me atrai são as mensagens que passa.” O padre confirma a tese. “Às vezes, tem uma multidão eufórica cantando, mas quando começo a falar, se faz um silêncio absoluto. Existe um respeito muito grande”, afirma.
Fonte: Isto É
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