Padre, popstar e conteúdo
Com uma bela estampa, discurso consistente e carisma de sobra, Fábio de Melo conquista fiéis (e fãs)
Renata Cabral
Revista Isto É
14/01/2009

A multidão que padre Fábio está se acostumando a ver em seus shows não se repete nas igrejas, mas o motivo é simples: ele só celebra missas em pequenos templos da pastoral universitária da diocese de Taubaté, no interior de São Paulo, da qual é responsável. Mas o religioso não se resume a um belo rosto e uma bonita voz. Ele é graduado em teologia na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e em filosofia (pela Fundação Educacional de Brusque, em Santa Catarina). É pós-graduado em educação na Universidade Salgado de Oliveira, no Rio, e mestre em teologia sistemática pelo Instituto Santo Inácio de Loyola, de Belo Horizonte (MG). Tanto investimento nos estudos já resultou em cinco livros. “Eu sabia que para ser comunicador tinha de ter conteúdo. O que fiz primeiro foi estudar. Sou professor de teologia e digo isso sem nenhuma vaidade, isso é responsabilidade”, afirma. “Dentre as várias expressões da música católica, o padre Fábio se destaca porque lança um olhar particular sobre a teologia, passando a mensagem de um Deus mais humano. Sua formação acadêmica, aliada à sensibilidade artística, distingue seu trabalho”, diz o padre Gleuson Gomes, da paróquia de Sangue de Cristo, no Rio.
O sacerdote diz que a música é sua forma de evangelizar e conquistar fiéis, tal e qual padre Marcelo Rossi, expoente máximo de sucesso católico no Brasil, com quem é comparado, assim como com o cantor Fábio Jr. “Não me importo com as comparações, admiro o trabalho dos dois”, diz o sacerdote, que, ao contrário de Marcelo Rossi, não usa vestes sacerdotais nos shows.

Após dez CDs lançados, a parceria com uma gravadora fora do segmento religioso representou um salto nas vendas. Líber Gadelha, presidente da LGK Music – onde padre Fábio é hoje o artista campeão de vendas –, arrisca uma justificativa. “Bíblia por si só não vende disco. O sucesso vem do pacote: carisma, bela voz e uma produção caprichada.” Para o professor de teologia da PUC de São Paulo, Fernando Altemeyer, arte e religião nunca foram incompatíveis, mas “a exposição midiática pode levar à captura apenas do símbolo que transmite a mensagem e fazer com que o conteúdo desapareça.” A estudante Beatriz Rodrigues, 17 anos, que saiu de Barretos, São Paulo, para assistir a um show no Rio, jura que foca o conteúdo: “Ele é bonito. E muito. Isso ajuda, mas o que mais me atrai são as mensagens que passa.” O padre confirma a tese. “Às vezes, tem uma multidão eufórica cantando, mas quando começo a falar, se faz um silêncio absoluto. Existe um respeito muito grande”, afirma.

Fonte: Isto É
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