Longe da figura do sacerdote de batina, Fábio de Melo conquista católicos (e fãs) de todas as idades e deixa para trás, no ranking dos campeões de venda de cds no Brasil em 2008, estrelas consagradas como o também Padre Marcelo Rossi e Ivete Sangalo
Guilherme Samora
Padre Fábio de Melo virou sensação. Seu CD, Vida, foi o mais vendido de 2008. Sua agenda, de cerca de 20 eventos por mês, faz com que esteja sempre viajando. Fãs lotam comunidades na internet para debater a obra e a vida do religioso. Agora, o padre se prepara para lançar um DVD, gravado na semana passada no Canecão, tradicional casa de shows no Rio de Janeiro.
Aos 37 anos, Fábio tornou-se um popstar no mercado musical brasileiro. Mas ele não gosta do título. “Idolatria é ruim, a fama é muito desgastante. Mas, quando reconheço o carinho verdadeiro das pessoas, isso preenche meu coração”, disse ele em entrevista a QUEM. Sem meias palavras, o padre diz que a verdade é sempre o melhor caminho. E suas declarações podem surpreender quem espera da figura do sacerdote um santo em carne e osso. Exemplos disso? Fábio, que defende o celibato na igreja católica, admite que entrou na vida religiosa encantado com a piscina do seminário e que chegou a namorar no começo da jornada para se tornar padre, ainda no seminário. Com jeitão de galã de novela, ele conta ainda que faz musculação e incentiva seus fiéis a cuidar da aparência: “Não é preciso ser feio para estar bem com sua fé”.
A julgar pelos números, as tiradas do padre não têm atrapalhado sua performance comercial. Seu último disco vendeu 540 mil cópias em menos de três meses na prateleira. Para ter uma ideia, o número é maior do que a soma dos dois maiores vendedores de 2007, segundo o ranking da Associação Brasileira de Produtores de Discos – o primeiro lugar foi de padre Marcelo, com 252 mil cópias, e o segundo de Ivete Sangalo, com 220 mil. Em seu programa, o Direção Espiritual, toda quinta-feira, às 22h30, na TV Canção Nova, as linhas telefônicas ficam congestionadas com a ligação de telespectadores atrás de conselhos e palavras de conforto. Seus shows e palestras são disputadíssimos. Tanto que o padre virou garantia de casa cheia onde quer que vá. “No ano passado, a gente cobrava apenas o valor das despesas (com viagem e estadia) para fazer eventos. Mas percebemos que muitos empresários cresceram os olhos para cima da gente e ganhavam à nossa custa. Então, mudamos isso. Hoje, só concordamos em realizar esses eventos se tiver uma boa porcentagem da bilheteria para uma instituição local. Meu escritório acompanha tudo de perto”, afirma Fábio de Melo.
A maior admiradora do religioso, como ela mesma se define, é a mãe, Ana Maria Melo da Silva, de 71 anos. Dona Ana, como é conhecida, conta que a religião é uma constante em sua família: “Tive um tio que foi padre. Além dele, oito primas foram irmãs de caridade”, diz. Com quatro filhos homens, ela conta que sempre soube que Fábio era diferente. “Ele foi o que aprendeu a rezar mais rápido. E, quando começou a ir à escola, colava santinhos na capa do caderno”, conta ela, que, desde a morte do marido, Dorinato Bias da Silva, há 17 anos, estreitou ainda mais os laços com Fábio e hoje mora com ele em Taubaté, interior de São Paulo. Ana garante que seu maior sonho era ter um padre em casa. “Mas eu imaginava aquele mais tradicional, que fica na paróquia”, afirma ela, que agora admira a abordagem do sacerdócio do filho. “Deus precisa de sacerdotes com esse dom.”
POBREZA E LIVROS
Nascido em Formiga (MG), em uma família simples – seu pai era pedreiro e a mãe, dona de casa –, Fábio diz que aprendeu a viver com pouco. “Passei toda a infância num contexto muito rural, muito simples. E o contexto da simplicidade é o da criatividade. Quando não se tem, se inventa. Acho que a carência material desperta a riqueza espiritual e uma maneira de ver a vida diferente. Então, gostava muito de ler. Quando somos pobres e descobrimos os livros, ganhamos o mundo”, afirma. Antes de entrar de vez para o seminário, sonhou em ser veterinário. “Sempre gostei muito de bichos.” Fábio teve seu primeiro contato com a formação religiosa quando foi fazer um estágio em um seminário de Lavras, no interior mineiro, aos 15 anos. Encantado com a piscina do lugar, decidiu ficar e se tornar padre. “Parece um motivo bobo, não é? Mas eu me encontrei de verdade ali.” Formado em filosofia e teologia, pós-graduado em educação e mestre em antropologia teológica, ele diz não se acostumar com o sofrimento: chega a chorar em velórios. Sua missão, segundo o próprio, é atualizar o Evangelho para chegar mais perto das pessoas. “Quero descobrir um jeito de fazer a religião tocar as pessoas, para fazê-las mais solidárias, mais fraternas.” Para os admiradores de Fábio de Melo, a maneira direta como o padre interpreta os ensinamentos católicos é a principal razão para muita gente se interessar pela religião. “Estava afastada da igreja, mas as palavras dele me incentivaram a voltar”, diz Lívia Carla Firmiano Nicácio, de 26 anos, assistente social em Arapiraca (AL).
BELEZA
BELEZA
Quando o assunto é o visual do padre, os fiéis admitem que há polêmica entre eles. Segundo o estudante carioca Bruno Braga de Azevedo, de 19 anos, isso pode ser visto de duas maneiras: “Não vejo problema. A beleza só atrapalha quando ela se torna superior ao que ele vem anunciar, que é a palavra de Jesus Cristo”. A advogada Amanda Almeida, de 24 anos e que mora em João Pessoa (PB), afirma que o estilo do padre fez com que ela prestasse mais atenção nele. “Não posso negar que, a princípio, sua beleza e seu modo de se vestir me chamaram a atenção. Tinha em minha mente aquela imagem de que os padres eram velhos e gordinhos! Mas bastou vê-lo por dez minutos para saber que a sua beleza era um detalhe perfeitamente dispensável!” Para o padre, os testemunhos dos fiéis são sinais de que está no caminho certo. Ele acredita que a Igreja aprova seu estilo. “Estou levando nossa proposta de evangelização para meios diferentes. A gente tem que ousar”, diz.
QUEM: Como decidiu ser padre?
PADRE FÁBIO: Nasci numa cidade pequena. Existia uma vida intensa dentro da igreja. A figura do padre era positiva. Era diferente de muitos lugares, em que o padre é apagado e ninguém o conhece.
QUEM: O senhor está longe da figura desse “padre apagado”. Qual o motivo de seguir por esse caminho?
PF: As pessoas podem ser ricas, brancas, negras, que o cotidiano é o mesmo: levantar de manhã, dar conta da vida, dos problemas, organizar afetos. O discurso religioso ajuda a dar conta de tudo isso. Assim como a arte. Por isso a literatura e a música são tão importantes neste caso...
QUEM: Existem críticas em relação a padres cantores.
PF: As pessoas que criticam têm a razão delas. São aqueles que têm na cabeça um paradigma de padre fechadinho na paróquia, sem fazer nada. Não me importo com isso. A Igreja não é contra quem faz um trabalho sério.
QUEM: Mas o senhor não grava apenas músicas religiosas. Em seu último CD, uma das músicas gravadas foi “Pai”, de Fábio Junior. Isso não é um problema?
PF: Eu não tenho medo de esbarrar no que o povo chama de música profana. Músicas assim ganham novo sentido num contexto sagrado.
QUEM: Para onde vai o dinheiro da venda de seus produtos, como livros e CDs?
PF: Não quero enriquecer. Em todos os trabalhos que faço, encontro uma instituição para ser beneficiada.
QUEM: Frequentemente, seu biótipo é comentado entre fiéis ou na mídia. A beleza pode ajudar?
PF: Teve um momento, na Idade Média, em que a Igreja começou a ter medo de tudo que era bonito. Criou-se uma aversão ao prazer. Na época em que era seminarista, era ainda pior. Ficava o povo naquela feiúra. Parecia que, quanto mais feio, mais santo. Isso é bobagem. Jesus arrastou o tanto de gente que ele arrastou porque certamente era sedutor. E digo isso de um modo geral, até mesmo com as palavras.
QUEM: Então, o senhor acha importante cuidar da aparência?
PF: Eu me cuido! Faço atividade física como questão de saúde. Tenho vaidade? Tenho. Mas nada que atrapalhe minha vida. Trabalho na TV e zelo por minha aparência. Também tenho que motivar as pessoas a ser assim. O que tem de gente feia e descuidada dentro da igreja é absurdo. Tudo por causa daquela mentalidade antiga.
QUEM: Como o senhor se cuida?
PF: Faço academia. Há cinco anos, tive um problema de saúde e um médico me recomendou a musculação. Tomei gosto. No dia em que não consigo me exercitar, não me sinto bem.
QUEM: Raramente vemos o senhor de batina...
PF: Sou um cara normal. No dia-a-dia eu me visto normalmente. Uso trajes litúrgicos para celebração.
QUEM: Com todos os cuidados com a aparência, o senhor já teve que enfrentar uma fã mais atirada?
PF: É impressionante como me respeitam. Claro que, no início dos shows, ouço comentários bobos. Gritam “lindo”. Mas eu estabeleço limites. O assédio maior vem através de e-mail, uma ou outra escreve e diz: “Olha, te acho isso, acho aquilo”.
QUEM: O senhor defende o celibato na Igreja católica?
PF: Sim. Não vejo como restrição, sabe? Quando fiquei padre, sabia que não me casaria. Encaro nessa restrição uma possibilidade: o fato de não me casar faz com que eu fique inteiro para minha missão.
QUEM: Mas o senhor nunca sente falta de uma companheira?
PF: Já me apaixonei quando era seminarista. Fui muito namorador, não tenho pudores em dizer isso. Mas, desde que decidi que era isso o que realmente queria, não estabeleço relacionamentos que possam ser perigosos para mim.
Fonte: Quem Acontece
Como a imprensa brasileira é artificial!Perguntas rasas, repetitivas...demonstração plena da superficialidade da repórter...
ResponderExcluirQue Deus ilumine ainda mais o padre para que tenha discernimento e perceba a quem deve conceder uma entrevista...