quarta-feira, 29 de outubro de 2008

"Quando o Sofrimento Bater à Sua Porta" - 1º Capítulo



Essência de vidro

Quando os nossos pés descalços se colocam diante das duras pedras do sofrimento...

quando a fragilidade de nossa condição nos leva a trilhar o inevitável caminho das sombras...

quando a vida nos revelar que somos potadores de uma essência de vidro...

é importante que a gente se livre da pressa e da facilidade das respostas prontas...

porque diante da dor sofrida, mais vale um silêncio, uma pausa, que uma palavra inoportuna.




Primeiras Palavras...

Sofrer é como experimentar as inadequações da vida. Elas estão por toda parte. São geradas pelas nossas escolhas, mas também pelos condicionamentos dos quais somos vítimas.

Sofrimento é destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos. O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido.

Perdemos boa parte da vida com sofrimentos desnecessários, resultados de nossos desajustes, precariedades e falta de sabedoria. São os sofrimentos que nascem de nossa acomodação, quando por força do hábito nos acostumamos com o que temos de pior em nós mesmos.

Perdemos a oportunidade de saborear a vida só porque não aprendemos a ciência de administrar os problemas que nos afetam. Invertemos a ordem e a importância das coisas. Sofremos demais por aquilo que é de menos. E sofremos de menos por aquilo que seria realmente importante sofrer um pouco mais.

Sofrer é o mesmo que purificar. Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos. O mesmo acontece na nossa vida. Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação.

Talvez assim descubramos um jeito de reconhecer as realidades que são essenciais em nossa vida. É só desvendarmos e elencarmos os maiores sofrimentos que já enfrentamos, e quais foram os frutos que deles nasceram. Nossos maiores valores costumam florescer a partir de nossos maiores sofrimentos, os mais agudos. Por isso se transformam em valores.

O sofrimento parece conferir um selo de qualidade à vida, porque tem o dom de revesti-la de sacralidade, de retirá-la do comum e elevá-la à condição de sacrifício.
Sacrifício e sofrimentos são faces de uma mesma realidade. O sofrimento pode ser também reconhecido como sacrifício, e sacrificar é ato de retirar do lugar comum, tornar sagrado, fazer santo.

Esta é a mística cristã a respeito do sofrimento humano. Não há nada nessa vida, por mais trágico que possa nos parecer, que não esteja prenhe de motivos e ensinamentos que nos tornarão melhores. Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixaremos demorar em nós.
Spinoza escreveu: “Percebi que todas as coisas que temia e receava só continham algo de bom ou de mau na medida em que o ânimo se deixava afetar por elas.”

O filósofo tem razão. A alegria ou a tristeza só poderão continuar dentro de nós à medida que nos deixamos afetar por suas causas. É questão de escolha. Dura, eu sei. Difícil, reconheço. Mas ninguém nos prometeu que seria fácil.

Se hoje a vida lhe apresenta motivos para sofrer, ouse olhá-los de uma forma diferente. Não aceite todo este contexto de vida como causa já determinada para o seu fracasso.
Não, não precisa ser assim.

Deixe-se afetar de um jeito novo por tudo isso que já parece tão velho. Sofrimentos não precisam ser estados definitivos. Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia. Daqui a pouco você já estará do outro lado; modificado, amadurecido.
Certa vez, um velho sábio disse ao seu aluno que, ao longo de sua vida, ele descobriu ter dentro de si dois cães – um bravo e violento, e o outro manso, muito dócil.

Diante daquela pequena história o aluno resolveu perguntar – E qual é o mais forte? O sábio respondeu – o que eu alimentar.
O mesmo se dará conosco na lida com os sofrimentos da vida. Dentro de nós haverá sempre um embate estabelecido entre problema e solução. Vencerá aquele que nós decidirmos alimentar...

Capítulo 01
As múltiplas faces do sofrimento

Nas estradas da vida, o sofrimento é uma passagem obrigatória.

Causa de muitos dizeres, motivo de muitos motivos, o sofrimento humano figura nas mais diversas culturas como um dos assuntos mais recorrentes. Muitos ramos de conhecimento já se ocuparam dele. Ramos diferenciados, evidenciando suas inúmeras faces.

O sofrimento é naturalmente interessante. Ele nos instiga a uma aproximação respeitosa, pois parece condensar boa parte do significado da vida. Compreender o sofrimento parece nos oferecer uma chave de leitura para todas as questões humanas, afinal ele perpassa toda a problemática da existência. Ele é o “lugar” onde reconhecemos nossa humanidade em sua crueza mais venturosa.

A filosofia, desde sua matriz grega até os dias de hoje, empenhou-se profundamente em suas tentativas de compreender o sofrimento e suas causas mais profundas. A teologia sempre se esmerou em articular a problemática da Revelação de Deus, centro de suas investigações, com sua busca incansável por respostas a respeito do sofrimento da condição humana.

A psicologia sempre se mostrou desejosa de fornecer caminhos que aliviassem o peso de nossas mazelas. O objetivo de sua pesquisa é favorecer ao humano uma estrutura psíquica um pouco mais harmoniosa, livrando-o das neuroses e o ajudando a conviver melhor com os limites que lhes são próprios.
A medicina, enquanto capacitada para dissecar a morfologia do sofrimento, isto é, o corpo que padece, avançou territórios interessantíssimos na luta contra a dor. Ela trabalha com o corpo e sua condição de “matéria temporária”.

O corpo é matéria limitada, isto é, ele é propenso aos limites e regras do meio em que está localizado. O corpo, quando exposto ao calor, sofrerá as conseqüências do aquecimento. Quando exposto ao frio, sofrerá as conseqüências do resfriamento. Somos vulneráveis, e esta vulnerabilidade é a porta de muitos sofrimentos.

O corpo é o território da dor. É nele que o sofrimento e todas as suas faces se concretizam. Quando violentado por alguma causa, o corpo responde com a dor.

A dor é uma resposta natural do corpo. Ela sinaliza para o limite que possuímos. É por isso que desde muito cedo aprendemos a driblar os nossos limites. É simples. Minimizar os limites é uma tentativa de evitar a dor. Este aprendizado nós o fizemos a partir de regras práticas do nosso dia-a-dia. Desde criança ouvimos a frase: “Não põe a mão no fogo porque queima!”

O imperativo da expressão era uma forma de apontar os limites que nos são próprios. Não temos uma pele resistente ao calor das chamas. Possuímos este limite, e com ele teremos que viver.

A medicina, ao ocupar-se das fragilidades do corpo, busca encontrar caminhos para superar, ainda que temporariamente, os poderes de sua finitude. O corpo, por estar sujeito à regra que postula que “tudo o que é vivo um dia morrerá”, experimenta constantemente o perigo da interrupção de sua duração. Este é o objeto da medicina. O corpo é a matéria da pesquisa, dos avanços e também dos fracassos.

A medicina não pára de buscar caminhos. Nas últimas décadas, temos acompanhado uma forte campanha dermatológica, solicitando à população que implante na rotina de suas vidas o uso do protetor solar. Com o problema das fendas na camada de ozônio, o aquecimento global nos legou, além dos muitos que já temos, um novo limite. Nossa pele não suporta a incidência dos raios que chegam diretamente até nós. Sem a camada de proteção natural, que foi destruída pelas constantes agressões de nossas sociedades industrializadas, somos agora obrigados a buscar um recurso que nos proteja dos raios nocivos do sol.

É a medicina tentando driblar o limite do corpo. É a tecnologia aplicada à preservação da saúde. É a tentativa de minimizar os sofrimentos físicos, aqueles que as radiografias detectam e que os exames revelam. É o corpo e suas possibilidades de dor. É a carne humana e sua fragilidade exposta; é o ser vivente e sua luta desesperada contra a morte.

Mas não temos o desejo de nos ater a estas questões. O nosso querer é menos pretensioso. Queremos, com simplicidade, buscar tecer uma reflexão que nos favoreça um jeito de acolher os sofrimentos que nos afligem, sem permitir que eles nos destruam ou nos retirem a vontade
de viver.

Para favorecer este nosso desejo e torná-lo possível, consideraremos o sofrimento a partir da díade: corpo – alma. Dessa forma, ficará mais seguro continuar o caminho
que desejamos.

Os sofrimentos do corpo são os diretamente ligados ao contexto da dor localizada, da dor material, física. O corpo que envelhece, o corpo que padece com os limites do tempo.

Já os sofrimentos da alma são os que se referem aos desatinos dos afetos, aos conflitos espirituais, emocionais, morais, enfim, tudo o que dói na vida humana e que não tem uma materialidade, isto é, não pode ser radiografado, nem tampouco identificado em exames laboratoriais.

Quando o nosso sofrimento é localizado e pode ser curado mediante prescrições de remédios, estamos diante de problemas para os quais a medicina já encontrou a solução. Se temos uma enfermidade psíquica, fruto de desordens químicas que geram tristezas, ou de distúrbios emocionais, provenientes de nossos distúrbios cerebrais, a medicina oferece inúmeros caminhos e possibilidades para sararmos estas questões.

Mas o que podemos fazer quando estamos diante dos limites que são próprios da vida e para os quais não existem remédios? Como reagir diante dos acontecimentos trágicos a que toda pessoa está sujeita? Como é que podemos nos posicionar diante de tudo o que nos infelicita nestes tempos tão marcados por inseguranças e violências?

Há algum jeito, alguma forma de fortalecer nossa estrutura humana para que o sofrimento seja enfrentado sem que ele se torne a causa de nossa ruína?

É possível administrar os sofrimentos e minimizar suas ações sobre nós? A dor pode nos ensinar alguma coisa? Podemos aprender alguma lição com os limites que são próprios da vida?

É sobre estas questões que queremos refletir.

Palavras de luz para a escuridão
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21 comentários:

  1. Aprender a ver o sofrimento como parte da vida e não como punição foi o primeiro aprendizado tanto na palestra feita no acampamento, como também pela leitura do livro do Pe. Fabio de Melo. Dar ressignificado ao sofrimento que nos acontece, permite que tenhamos mais força e atitudes ativas de buscar ajuda, sem nos vitimizar e cair mais e mais. Obrigada, sempre, Pe. Fabio de Melo.

    Gemma Alessio - Rio de Janeiro

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  2. Pe.Fábio,obrigada por mim ensinar a olhar para o sofrimento com o olhar de Deus.A sua vida doada mim faz perseber que atingimos pessoas que nem imaginamos e que só no céu vamos conhecer pessoas atingidas pela doação da nossa vida.OBRIGADA!Sua benção!

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  3. !!!Ola PE Fabio eu conheço o seu trabalho a anos e ainda me surpriendo com a maneira de vc nos mostrar que mesmo sofrendo JESUS tira de nos o que temos de melhor.O que é mais bonito nos nem sabemos que possuimos essa força que vem do CEÚ.VC e um anjo que DEUS envio pra nos direcionar a ELE sua bença um grande ABRAÇO!!!

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  4. Ontem assisti a palestra do Pe Fabio de Melo e ele tem razão damos valor a cascalhos como se fossem pedras preciosas e quando elas viram farelo,nos damos conta que cultivamos sofrimentos que não merecem tanto valor.E existem sofrimentos que não valorizamos e realmente valem certo sacrificio

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  5. Pe:Fábio,o que falar de uma pessoa tão querida e tão cheia de luz cm você;O livro é maravilhoso e nos tras muita luz,parabéns,Deus continue te usando e te fazendo esse ser lindo e maravilhoso que és!Parabéns!!!!!!!!!!!(JANICE)

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  6. Luciana...
    Você tem qualidades que nem uma outra pessoa tem,é um ser único.Agradeça por elas.Alegre-se.
    Obrigada por ser tão especial...
    Beijos fica com Deus.

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  7. Sem dúvida alguma essa é a sua missão: Trazer luz as pessoas com as suas palavras. Pe. Fábio é possuidor de uma sabedoria extrema, com ele pude aprender o delicioso sabor de uma leitura capaz de mudar a minha vida, já que seus ensinamentos são perfeitamente possíveis de serem aplicados no dia-a-dia e isso que é fantástico... Utopias ficam muito bonitas em palavras, mas não acrescentam em nada, Padre Fábio optou por elevar o nosso espírito, nos enriquecer com seus ensinementos alcançaveis. Nunca fui muito ligada a riquezas materiais, e os livros dele, quem me rodeia sabe, É O PRESENTE QUE MAIS ME ALEGRA!
    obrigada Padre Fábio...

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  8. Padre com sua FË, peço que ore para a "Saúde da visão e audição de meus filhos". Obrigada!
    Débora Della Violla Groppo.

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  9. Padre fabio seus livros são lindos,quando os leio tudo serve para para mim...cada palavra...cada reflexão,oração..Obrigada por existir em nosa vida,sei que assim como eu muitas pessoas tbm pensam o mesmo do senhor.

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  10. hoje Deus me tocou jamais quero esquecer esse momentos em que JESUS tocou_me esta tarde.Obrigado P.Fabio que Jesus seja sempre seu senhor Paulo Carmo da Cachoeira (MG).

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  11. hoje DEus me tocou nessa tarde um encontro do qual jamais esquecerei. obrigado por tudo. Carmo da Cachoeira (MG)

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  12. ecelente livro padre fabio de melo..parabéns por ser essa pessoa imluminada por Deus..gosto muito dos livros q o senhor escrevir.pois nos faz refletir mais sobre a vida...

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  13. nossa padre! voçê não sabe o quanto essas palavras significaram para. muito obrigada.

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  14. Padre Fábio, parabéns pelo excelente trabalho. Suas palavras nos ajudam a cuidar de nossas feridas...

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  15. Pe.Fábio,obrigada por mim ensinar a olhar para o sofrimento com o olhar de Deus.A sua vida doada mim faz perseber que atingimos pessoas que nem imaginamos e que só no céu vamos conhecer pessoas atingidas pela doação da nossa vida.OBRIGADA!Sua benção!

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  16. padre fábio, parabéns por este seu livro que é maravilhoso de coração.

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  17. MARIA VALERIA-GOSTO MUITO DOS SEUS LIVROS ELES NOS DA UM ENSINAMAMENTO PARA A NOSSA VIDA NOS MOSTRA O CAMINHO DA VERDADE ABRE AS PORTAS DO NOSSO CORRACAO .

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  18. Esse livro foi a minha salvação para não cair em um abismo de depressão e dor no momento mais triste da minha vida!

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  19. Foi a luz que minha família precisava para enfrenta e perda do Magno meu primo,que partiu dessa vida tao cedo (26 anos) não entendemos o sofrimento dele a forma como ele partiu o por que de tudo,mais esse livro foi nosso porto seguro nosso chão....

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  20. Fatima Aparecida de Castro5 de dezembro de 2012 às 11:18

    Esse livro eh lindo, sem dizer dos outros, que sao maravilhosos. Esse padre eh uma bencao na vida da gente com seus livros e suas musicas. Que Deus o abencoe por ser ser uma pessoa tao iluminada.

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  21. Eu ja o admirava e depois de ler o livro tempo de espera´e asistir ao show recentemente na minha Cidade(Senhor do Bonfim - Ba)passei a admira-lo ainda mais.Dei o livro de presente a um amigo que está passando por um momento muito dificil, e ele classificou - o de fenomenal.
    Ja estou com uma lista dos que vou adquirir.
    Que Deus o ilumine sempre e continue ajudando as pessoas atraves das suas obras.
    Girlene

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