Fenômeno pop-eclesiástico
Mineiro nascido em Formiga, o padre Fábio de Melo é o mais novo fenômeno religioso do País. Aos 37 anos, ele é graduado em Filosofia e Teologia, pós-graduado em Educação, mestre em Teologia Sistemática e divide seu tempo entre o sacerdócio e seu trabalho como professor universitário, escritor, cantor, compositor e apresentador do programa “Direção Espiritual” na TV Canção Nova. Dedicando-se ao trabalho de evangelização por meio da arte, padre Fábio de Melo segue o princípio de que o Evangelho é sempre uma palavra que nos proporciona a “aventura do bem”. Já são 10 CDs gravados e quatro livros publicados, sendo que o penúltimo, Quem me roubou de mim, vendeu 130 mil exemplares em pouco mais de um mês. Nessa entrevista, ele fala um pouco sobre essa obra, na qual procurou fazer um paralelo entre o seqüestro do corpo (roubo da materialidade) e o seqüestro da subjetividade, contando diversas histórias que são comuns ao cotidiano das pessoas.
No livro “Quem me roubou de mim” o senhor se propõe a falar sobre o seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa. O que é o seqüestro da subjetividade?
Fábio de Melo Nós estamos acostumados o tempo todo com o seqüestro do corpo, que é a construção de um cativeiro onde uma pessoa é retirada dos seus significados, da sua vida e trancafiada. O seqüestro da subjetividade é um roubo que extrapola a materialidade. É alguma coisa que nos é roubada, colocada em cativeiro, mesmo que a gente continue com a nossa vida do mesmo jeito: que a gente continue indo para a escola, para o colégio, para a faculdade. A subjetividade diz respeito a tudo aquilo que é próprio do sujeito, é aquilo que ele experimenta sendo ele mesmo. E o seqüestro da subjetividade acontece quando alguém impede que o outro seja ele mesmo, às vezes, de forma autorizada pela própria vítima. Mas quando a gente percebe que se trata de afeto, a nossa capacidade de decidir sobre os afetos está limitada. O seqüestro da subjetividade se caracteriza como uma forma de perder a pertença. Alguém me roubou de mim. Alguém me retirou a capacidade de decidir sobre a minha vida.
É muito fácil perceber que isso acontece no dia-a-dia de muitas pessoas. No livro é possível ler diversas histórias que retratam isso.
Fábio de Melo Exatamente, porque o conceito do seqüestro da subjetividade existe há muito tempo. Ele nasceu com a Revolução Industrial e foi aplicado pela primeira vez dentro de um contexto de relações trabalhistas com a produção em série. Naquele regime de trabalho quase escravo, o seqüestro da subjetividade acontecia muito, porque os patrões eram praticamente proprietários da vida dos seus funcionários. Às vezes, os turnos de trabalho duravam 12 horas e a pessoa acabava perdendo um pouco o foco da vida e vivendo em função do trabalho. Hoje, as relações afetivas são muito assim também. As pessoas perdem o foco da própria vida e vivem em função do outro. O que é absolutamente destrutivo para a própria relação. Uma relação é mais qualificada na medida em que as pessoas são donas de si mesmas. Quando eu vou para o encontro com alguém eu preciso ser proprietário do que eu sou porque senão eu coloco em risco a minha subjetividade e, naturalmente, coloco em risco a subjetividade do outro também.
Qual a sensação de viajar o Brasil inteiro levando palavras de conforto e união?
Fábio de Melo Pra mim é alegria porque eu compreendo a evangelização como uma devolução. As pessoas são roubadas o tempo todo. Um olhar maligno, uma experiência de ser olhada com maldade, uma palavra que destro. E o contexto de Jesus é o contexto de devoluções, do olhar amoroso, da palavra que faz bem. E a gente poder viajar, devolvendo ao povo, restituindo ao povo aquilo que lhes é roubado, é uma alegria muito grande.
O senhor tem consciência de que hoje é considerado um fenômeno no País?
Fábio de Melo É possível ter uma idéia pela repercussão do trabalho hoje, até pela própria vendagem do livro. Quando eu soube dos números fiquei um pouco assustado, porque eu sou leitor, trabalho em outras editoras e sei muito bem o que é vender livros neste País. E quando me disseram que nós já havíamos ultrapassado 130 mil cópias vendidas em um espaço de dois meses eu disse: “Meu Deus, que responsabilidade”. Shakespeare dizia isso, que quanto mais cresce a repercussão de um trabalho maior é a responsabilidade daquele que o faz. E hoje, eu administro essa responsabilidade com muito respeito. Respeito pelo público que me prestigia e pelas pessoas que escutam o que eu falo. E eu tenho sempre a consciência de que a minha palavra tem que estar energizada com a palavra de Jesus, tem que estar em consonância com o evangelho. E ser portador de uma boa notícia é muito bom. Saber que tudo o que a gente canta, escreve e fala não tem outro objetivo senão fazer bem as pessoas.
Por Carlos Alberto Soares
Fonte: Revista Bianchini
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