Fenômeno pop-eclesiástico

No livro “Quem me roubou de mim” o senhor se propõe a falar sobre o seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa. O que é o seqüestro da subjetividade?
Fábio de Melo Nós estamos acostumados o tempo todo com o seqüestro do corpo, que é a construção de um cativeiro onde uma pessoa é retirada dos seus significados, da sua vida e trancafiada. O seqüestro da subjetividade é um roubo que extrapola a materialidade. É alguma coisa que nos é roubada, colocada em cativeiro, mesmo que a gente continue com a nossa vida do mesmo jeito: que a gente continue indo para a escola, para o colégio, para a faculdade. A subjetividade diz respeito a tudo aquilo que é próprio do sujeito, é aquilo que ele experimenta sendo ele mesmo. E o seqüestro da subjetividade acontece quando alguém impede que o outro seja ele mesmo, às vezes, de forma autorizada pela própria vítima. Mas quando a gente percebe que se trata de afeto, a nossa capacidade de decidir sobre os afetos está limitada. O seqüestro da subjetividade se caracteriza como uma forma de perder a pertença. Alguém me roubou de mim. Alguém me retirou a capacidade de decidir sobre a minha vida.
É muito fácil perceber que isso acontece no dia-a-dia de muitas pessoas. No livro é possível ler diversas histórias que retratam isso.
Fábio de Melo Exatamente, porque o conceito do seqüestro da subjetividade existe há muito tempo. Ele nasceu com a Revolução Industrial e foi aplicado pela primeira vez dentro de um contexto de relações trabalhistas com a produção em série. Naquele regime de trabalho quase escravo, o seqüestro da subjetividade acontecia muito, porque os patrões eram praticamente proprietários da vida dos seus funcionários. Às vezes, os turnos de trabalho duravam 12 horas e a pessoa acabava perdendo um pouco o foco da vida e vivendo em função do trabalho. Hoje, as relações afetivas são muito assim também. As pessoas perdem o foco da própria vida e vivem em função do outro. O que é absolutamente destrutivo para a própria relação. Uma relação é mais qualificada na medida em que as pessoas são donas de si mesmas. Quando eu vou para o encontro com alguém eu preciso ser proprietário do que eu sou porque senão eu coloco em risco a minha subjetividade e, naturalmente, coloco em risco a subjetividade do outro também.
Qual a sensação de viajar o Brasil inteiro levando palavras de conforto e união?
Fábio de Melo Pra mim é alegria porque eu compreendo a evangelização como uma devolução. As pessoas são roubadas o tempo todo. Um olhar maligno, uma experiência de ser olhada com maldade, uma palavra que destro. E o contexto de Jesus é o contexto de devoluções, do olhar amoroso, da palavra que faz bem. E a gente poder viajar, devolvendo ao povo, restituindo ao povo aquilo que lhes é roubado, é uma alegria muito grande.
O senhor tem consciência de que hoje é considerado um fenômeno no País?

Por Carlos Alberto Soares
Fonte: Revista Bianchini
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