sábado, 1 de novembro de 2008

Ensinar como a experiência do cuidar - I Congresso Pensar


"Ensinar como a experiência do cuidar"

Conferência
Para o padre Fábio de Melo, o conhecimento nunca está terminado; ele lembra que este é uma teia que deve ser tecida a partir da superação dos limites.

O ato de cuidar é um dos eixos transformadores do mundo. Esse é um dos principais ensinamentos que os educadores presentes na segunda noite do Congresso Pensar apreenderam da conferência "A Experiência Antropológica do Cuidado", proferida pelo padre Fábio de Melo, sacerdote graduado em Filosofia e Teologia, pós-graduado em Educação e mestre em Teologia Sistemática. O evento, que gira em torno do tema Educação: Inclusão pelo Esporte, Arte e Cultura, é realizado pelo Jornal do Tocantins - em parceria com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e a Federação do Comércio do Estado do Tocantins (Fecomércio) - desde quarta-feira na Capital e se encerra amanhã.

“A experiência do cuidado nasce em nós a partir do sofrimento e da estrutura de limites estabelecida”, ponderou o sacerdote, que no decorrer da sua conferência fez pontes entre a filosofia e a teologia, enquanto compartilhava o seu pensamento com as centenas de educadores presentes. “O que dizemos ser o pecado original não é pecado nem é original. É apenas o desejo de superar limites”, comparou, sem dúvida surpreendendo a muitos participantes.

Entre o estudioso da filosofia e a sua opção pelo sacerdócio, ficava evidente que a platéia tinha diante de si uma pessoa encantada pela condição humana. “Esbarramos o tempo todo na experiência do nosso limite e se não o fizéssemos, não iríamos a lugar algum. Se você já se sentiu perdido, conhece a experiência do cuidado”, afirmou, salientado que a beleza está na superação. “Se não consigo embrulhar amorosamente o meu limite, jamais saberei cuidar”, completou.

No entanto, alerta padre Fábio, a grande dificuldade é reconhecer o nosso limite e sem isso, afirma, jamais será possível superá-lo. “Temos de administrar nossos sentimentos e não sermos administrados por eles. A fragilidade humana é assustadora. Temos de nos dar conta da nossa humanidade todos os dias e construir uma visão positiva dos limites”, ensinou.

Conhecimento
No decorrer de toda a sua conferência era evidente a analogia com o ato de educar. Afinal, ele mesmo definiu que ensinar é a experiência do cuidar e lembrou: “o conhecimento nunca está terminado. É uma teia que vamos tecendo a partir da superação dos limites: eu respeito o limite do outro e estabeleço com ele o pacto do cuidado, ao mesmo tempo em que ambos avançamos”. E arrematou: “não posso negar o que o outro é e nem encarar o não saber como limite. Toda estranheza cai por terra se dividimos nossas necessidades".

Para padre Fábio, nem sempre o professor que marca é o mais inteligente. É aquele que olha com cuidado. Lembrando que Jesus tinha um olhar positivo até para as misérias humanas, o sacerdote conclamou os professores a voltarem a se amar. “No passado, vocês tinham o reconhecimento dos alunos, dos pais, da escola e os salários eram mais dignos. O mundo mudou. Está longe o tempo em que o professor era recebido de pé. Mas não é hora de sentar e chorar. Vocês têm algo a fazer. Estão grávidos de futuro”, comentou, tomando emprestada uma frase da escritora Clarice Lispector. “Cuidar, portanto, é revestir o limite da possibilidade".

Pedagoga, Poliana Parente Almeida declarou, após a conferência, que a fala do padre Fábio de Melo era o que esperava. “Vim sem um conhecimento prévio do tema que ele iria tratar, mas tudo o que disse foi válido para levarmos para as nossas relações humanas: respeitar o outro e respeitar a nós mesmos e, a partir daí, construir vínculos”, concluiu, enquanto o palestrante da noite encerrava sua intervenção lembrando que o educador precisa resgatar a paixão pelo ser humano e que a tecnologia é apenas um recurso a mais para fazê-lo brilhar.

Já a professora Nilcéia Resende, da Escola Castelinho, de Gurupi, foi surpreendida, ao final da palestra, com os recadinhos de seus alunos que foram lidos e repassados à ela pelo padre Fábio de Melo.

Por Maísa Lima

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