sexta-feira, 30 de abril de 2010

4ª Bienal do Livro tem cinco atrações neste sábado

Na palestra, os autores abordarão o livro “Cartas entre Amigos – Sobre Ganhar e Perder”, lançado no último dia 28

Sexta-feira, 30 de abril de 2010 - 17:21
Agência BOM DIA



Neste sábado (1º/4) a 4ª Bienal do Livro recebe cinco atrações, a palestra “Conferência Entre Amigos”, do Padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita; o show “Tocar na Banda”, de Vânia Bastos; as exibições dos filmes “Sobe ou Desce” e “O Homem Nu” e a leitura de trechos dos textos de Hilda Hilst, o trabalho é intitulado “As Várias Faces de Hilda Hilst”, de Rosaly Papadopol.

A palestra “Conferência Entre Amigos”, do Padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita, será às 9h30, no Anfiteatro da Represa Municipal. Na palestra, os autores abordarão o livro “Cartas entre Amigos – Sobre Ganhar e Perder”, lançado no último dia 28.

As indagações do mundo real e os dilemas cotidianos são objetos das reflexões sobre ganhar e perder, compartilhadas entre o padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita. As cartas nascem das afinidades intelectuais de duas mentes motivadas e envolvidas com seu tempo. O livro resulta em um entrelaçar de textos na construção de palavras geradoras de esperança, uma obra anunciadora de um futuro em que a solidariedade, a empatia, a compaixão, o respeito e a alegria sejam protagonistas.

À noite, às 20 horas, sobe ao palco do Palavra Sensorial a cantora Vânia Bastos, com o show “Tocar na Banda”. Com um repertório variado, ela apresenta canções de Caetano Veloso, Tom Jobim, Milton Nascimento, entre outros. Ao longo de sua trajetória, fez duetos com vários cantores da MPB, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Lô Borges.

No mesmo horário, o Palavra Filmada recebe dois filmes da mostra “Encontro Marcado com Fernando Sabino”. Será exibido o curta-metragem “Sobe ou Desce”, dirigido por Jorge Monclar e e o longa “O Homem Nu”, dirigido por Roberto Santos.

Para fechar a programação, o Palavra Em Cena recebe a atriz Rosaly Papadopol, que apresentará “As várias faces de Hilda Hilst”, às 20h30. Na atividade, Rosaly fará a leitura de trechos de poesia, ficção, dramaturgia e crônica, escritos por Hilda Hilst por mais de cinquenta anos.

Com mais de 30 anos de carreira em teatro, cinema e tv, a atriz fez diversos trabalhos. Entre eles a novela “Pé na Jaca” (Rede Globo), a série “Malhação” (Rede Globo) e o filme “Belini e a Esfinge”. Ganhou o prêmio de melhor atriz de 2009 por sua atuação em “Hilda Hislt – O Espírito da Coisa”, espetáculo que concebeu e produziu.


Serviço

4ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto
Palestra “Conferência entre amigos” - Padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita
Data: 1º de maio
Horário: 9h30
Local: Anfiteatro da Represa Municipal

Palavra Sensorial - Show “Tocar na Banda” - Vânia Bastos
Data: 1º de maio
Horário: 20h
Local: Anfiteatro da Represa Municipal

Palavra Filmada
Filme: Sobe ou Desce - Direção: Jorge Monclar – 10'50"
Filme: O Homem Nu - Direção: Roberto Santos, 1968 - 118'
Data: 1º de maio
Horário: 20h
Local: Centro de Educação, Cultura e Artes – Swift

Palavra Em Cena
“As várias faces de Hilda Hilst – Rosaly Papadopol
Data: 1º de maio
Horário: 20h
Local: Centro de Educação, Cultura e Artes – Swift

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Cartas entre amigos II - Noite de Autógrafos em São Paulo



Na próxima quarta, 28/04, Padre Fábio de Melo e Gabriel Chalita estarão na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na capital paulista, para a noite de autógrafos do esperado livro "Cartas entre amigos - sobre ganhar e perder".
O lançamento da continuação do best-seller "Cartas entre Amigos - sobre medos contemporâneos" deve repetir a concorrida noite do lançamento da primeira obra da dupla de maior sucesso editorial da atualidade, quando, em maio de 2009, mais de 800 pessoas compareceram à mesma livraria e esperaram desde a madrugada para conseguirem um autógrafo dos autores.
Desta vez, a organização avisa que não serão permitidas máquinas particulares. As fotos serão feitas por um profissional da Editora Globo que disponibilizará as imagens para os clientes após o evento.
Vale lembrar que apenas o novo livro "Cartas entre amigos - sobre ganhar e perder" serão autografados.

Carla Balthazar


Autógrafos
Quarta-feira, 28 de abril às 19h
Livro: CARTAS ENTRE AMIGOS - SOBRE GANHAR E PERDER
Autor: Gabriel Chalita e Padre Fábio de Melo
Editora: Globo
Local: Livraria Cultura Conjunto Nacional - Av. Paulista, 2073 - Bela Vista - São Paulo/SP

Sobre o título:

O momento é agora. O meio: cartas trocadas entre dois amigos. O resultado: um livro envolvente desde as primeiras linhas, destinado a conquistar os corações e as mentes de seus leitores. 'Cartas entre amigos – Sobre ganhar e perder', do padre Fábio de Melo e do educador Gabriel Chalita, nasceu da recente troca, tornada rara em tempos de comunicação eletrônica, de cartas pensadas, de cartas sentidas, de cartas vividas, entre duas mentes motivadas e envolvidas com o seu tempo. Cartas assim, em que os correspondentes se estimulam mutuamente – e, enquanto dialogam entre si, abrem-se para o mundo – são uma forma iluminadora de reflexão, pela qual as personalidades dos autores, seu pensamento, suas experiências, opiniões e emoções vão se desenvolvendo, se expondo e se condensando. Há, porém, um terceiro personagem: o mundo contemporâneo. Ganhos e perdas da contemporaneidade são a grande novidade desse novo diálogo dos autores. Recorrendo a autores como Tomás Antônio Gonzaga, Machado de Assis, Castro Alves, Graciliano Ramos, Guilherme de Almeida, Adélia Prado e Nélida Piñon, entre outros, Chalita e padre Fábio resgatam na sabedoria mais que milenar da literatura reflexões confortantes, que aliviam a aparente desesperança de viver no século XXI. Assim, pensam eles, 'perder' tempo com a beleza de um poema ou com a simplicidade maravilhosa de por de sol é um ganho incomensurável, ainda que não possa haver qualquer maneira mensurá-lo materialmente. Duas experiências de vida, duas vozes, dois estilos (um educador laico sintonizado com um catolicismo moderno, um padre católico inteiramente integrado ao mundo contemporâneo), que se igualam na sensibilidade literária e na generosidade de sua visão de mundo.

* Os autores autografarão apenas o livro “Cartas entre amigos – Sobre ganhar e perder”.
* Não será permitido o uso de máquinas fotográficas particulares. E Editora Globo disponibilizará um fotógrafo para as fotos com os autores e as mesmas serão disponibilizadas para os clientes após o evento.

Veja como chegar
















Um diálogo sobre a vida e a filosofia

Gabriel Chalita e o padre Fábio de Melo reabilitaram a epístola. Seus livros de cartas que enviaram um para o outro são bestsellers

A troca de cartas foi aparentemente esquecida desde o advento da internet e do e-mail. A correspondência virtual imprimiu aos nossos tempos um estilo de comunicação seco e direto, sem a intimidade característica das cartas outrora escritas à mão. Não há, porém, nada num e-mail que o impeça de resgatar esse tom epistolar. É precisamente esse o maior recado do segundo livro da dupla formada pelo escritor Gabriel Chalita e pelo padre, cantor e compositor Fábio de Melo. O volume Cartas entre amigos – Sobre ganhar e perder (Editora Globo, 225 páginas, R$ 39,90) reúne a correspondência virtual trocada pelos dois entre setembro de 2009 e fevereiro deste ano. As 18 cartas – ou e-mails – versam sobre suas inquietações a respeito de conceitos como vitória e derrota e traduzem visões singulares de vida e filosofia. Seu tom sincero e genuíno renova um gênero literário quase esquecido: a epístola (leia abaixo os trechos selecionados das cartas) .

No primeiro livro da dupla, Sobre medos contemporâneos(lançado no ano passado pela Ediouro), Chalita e o padre Fábio escreveram sobre solidão, fracasso, inveja, envelhecimento. Foi um dos cinco livros mais vendidos de 2009. “No novo livro

procuramos discutir o significado do conceito de ganhar e perder”, diz Chalita. “As pessoas se sentem derrotadas por coisas tão simples, como ir mal numa prova, perder o emprego, problemas amorosos.”

Não há registro no livro de local ou de data de cada uma das 18 cartas trocadas. “Os assuntos de que tratamos ali são atemporais”, afirma Chalita. Aos 41 anos, formado em Direito e filosofia, Chalita é professor de graduação e pós-graduação da PUC-SP e da Universidade Mackenzie, membro da Academia Paulista de Letras e da Academia Brasileira de Educação. Em 2008, foi o vereador mais votado nas eleições municipais paulistanas, com 102 mil votos. Já lançou 50 obras – o primeiro título quando tinha 11 anos: uma carta dirigida a Deus, perguntando por que seu irmão, com síndrome de Down, não se curava.

O padre Fábio de Melo, de 39 anos, é formado em filosofia e teologia. Já lançou crônicas, contos e ensaios filosóficos. É referência hoje no universo da música cristã. Seus 12 CDs ultrapassaram a marca de 2 milhões de cópias vendidas e transformaram-no em ídolo popular.

Chalita conheceu padre Fábio há seis anos no programa de entrevistas que apresenta na rede Canção Nova, ligado ao movimento católico conhecido como Renovação Carismática. A afinidade dos dois em filosofia e literatura conduziu à amizade e à intensa troca de e-mails sobre temas contemporâneos. “A gente não discutia nada previamente ou decidia sobre o que trataríamos em nossos e-mails”, diz Chalita. “Não houve pesquisa de nenhum dos lados. Escrevemos sobre as experiências que estávamos vivendo.”

No novo volume, intitulado ao estilo dos filósofos clássicos como Sobre ganhar e perder, Chalita inicia uma carta contando “os horrores praticados na Tanzânia contra os albinos”, história relatada por uma jurista num congresso de direitos humanos. Por lá, há uma superstição: os albinos são vítimas de rituais de mandinga e sacrificados. Muitos tanzanianos acreditam que o sangue ainda quente dos albinos traz sorte. Vencer, para os feiticeiros da Tanzânia, é realizar a proeza de matar albinos e sorver-lhes o sangue ainda quente. Na resposta de padre Fábio, ele destaca o entendimento equivocado do conceito: “É lamentável que nos dias de hoje ainda tenhamos de admitir tamanho absurdo. O fato nos leva a compreender que, em muitos lugares do mundo, o respeito ao ser humano ainda não aconteceu. Ele ainda está condicionado a fatores culturais”.

O diálogo mantido ao longo do livro é comparado pelo padre Fábio aos debates na ágora, praça das antigas cidades gregas onde era realizada a troca de mercadorias e de ideias. À maneira dos filósofos gregos, ele se debruça sobre o que define como “a filosofia do cotidiano, a reflexão nossa de cada dia”.

Além do tom intimista, outro recurso usado pelos missivistas para aproximar essa filosofia do leitor é citar poemas, romances, estudos e filmes. A vida dos outros, longa-metragem alemão, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2007, é lembrado por Chalita como exemplo do interesse que as relações humanas despertam. No filme, um espião da Stasi, a polícia secreta do governo alemão oriental, se sente tocado pelo drama vivido pelo casal que espionava e, anonimamente, acaba por ajudá-lo. Chalita cita ainda A era dos direitos, do filósofo italiano Norberto Bobbio, como exemplo da importância do estado de direito, da democracia, da paz e de valores humanos: o aprendizado com as diferenças e o amor.

Em Cartas entre amigos – Sobre ganhar e perder, assim como em Sobre medos contemporâneos, Chalita e padre Fábio procuram promover uma reflexão sobre as relações humanas e tudo o que as envolve: sentimentos, pensamentos e atitudes. Padre Fábio relembra os dizeres bíblicos e compara a boa palavra ao bom alimento, ambos necessários a uma vida saudável. “Uma boa reflexão pode mudar o rumo de uma vida”, diz ele. “As pessoas erram muito porque refletem pouco.” As palavras trocadas pela dupla revelam como o e-mail pode ser um gênero de comunicação enriquecedor.

Trechos de uma carta de Gabriel Chalita

“Querido irmão padre Fábio, Depois de alguma pausa, voltemos à nossa prosa. No fluxo de nossa vivência, vamos aquinhoando experiências. Nossos olhares são capazes de reter considerações que vão moldando o que somos. A imagem surge como os sentidos captando impressões. Depois dela, vem o conceito. O conceito é o que permanece quando a imagem se esvai. É como o conhecimento que fica com o avançar da aprendizagem. Lançamos mão de excessos para que a viagem fique mais leve ou para que o compartimento dos nossos sentidos receba outros companheiros. O bom conceito é aquele que traz a companhia da bondade, da gentileza, do respeito, entre outros avidamente esperados. Esperamos como necessidade vital. Esperamos o amanhecer. Esperamos o entardecer. Esperamos a demorada cicatrização da incômoda ferida. Esperamos um amor. Esperamos compreensão. Compreensão apenas, amigo. Guimarães Rosa dizia que ‘esperar é reconhecer-se incompleto’ ”

“Querido amigo, Este é um ensinamento fundamental: não permitir que a nossa vida caia no banal. Ler Dostoiévski, Tolstói, ou ouvir as histórias de Rosa, ou de dona Ana, ou de dona Anisse; beber em Padre Vieira, ou em mulheres e homens que nas praças e nas esquinas oferecem o paladar apurado pelo tempo; tudo isso nos tira do banal e nos empresta ornamentos para nossa travessia. Amigo, quando escrevo para você, escrevo para mim também. O verbo vai ganhando autonomia. As palavras são desafiadoras. Fico pensando se de fato eu paro, nem que seja em algumas janelas, para contemplar as vidas que se escondem por detrás dos véus das cortinas ”

Trechos de uma carta de Fábio de Melo

“Meu querido Gabriel,Há discursos extensos que não nos presenteiam com palavra alguma. É a fala infértil, prolixa, redundante. Não agrega absolutamente nada ao que somos, mas ao contrário é capaz de nos retirar a alegria e a disposição. Neste mundo em que vivemos, é muito comum nos depararmos com discursos assim. Mas há outros que são ricos de palavras geradoras. São construídos a partir de uma visão holística da realidade, capaz de abarcar inúmeros aspectos numa mesma trama de palavras. É o discurso que não abre mão da sensibilidade, que realiza a proeza de colocar na mesma pauta razão e emoção. Meu amigo, sua carta é um celeiro de palavras geradoras. Seu olhar sobre o mundo é profundo e respeitoso. A raiz de tudo isso é o amor que você tem pela humanidade. Não é possível refletir as questões fundamentais da comunidade humana sem que por ela existam amor e respeito ”

“Meu amigo Gabriel, sua carta me proporcionou uma pequena viagem literária. Foi interessante reencontrar o contexto profundo dos personagens de Machado, atado à retórica eloquente de padre Vieira. De um lado está o escritor que não temeu descrever as mazelas humanas. A escrita vigorosa de Machado colocou à luz o subterrâneo da condição humana. De outro, está o homem que cresceu sob a luz esperançosa da fé cristã. O que por Machado foi revelado com perspicácia e ironia, por ele foi refletido a partir de rebuscadas teologias. A condição frágil e inacabada do ser humano encontra redenção no Evangelho que padre Vieira anuncia"

domingo, 25 de abril de 2010

Cartas entre amigos - sobre ganhar e perder

Cartas entre amigos - sobre ganhar e perder
Fábio de Melo e Gabriel Chalita


As indagações do mundo real e os dilemas cotidianos são objetos das reflexões sobre ganhar e perder compartilhadas entre o padre Fábio de Melo e o educador Gabriel Chalita. As cartas nascem das afinidades intelectuais de duas mentes motivadas e envolvidas com seu tempo.

A leveza dos diálogos entre a ética e a estética, entre o bem e o belo amplia a visão dos temas cotidianos e abre novas possibilidades. Experiências, opiniões e emoções que se desenvolvem e se condensam na tessitura permeada pela esperança na amizade, no amor, na simplicidade e na fé como caminhos para um mundo melhor.

"Cartas entre amigos, sobre ganhar e perder" traz para suas reflexões obras de grandes escritores de nossa literatura, com os quais os autores têm afinidade, como Machado de Assis, Castro Alves, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, João Cabral, entre outros. Um entrelaçar de textos na construção de um celeiro de palavras geradoras de esperança. Obra anunciadora de um futuro em que a solidariedade, a empatia, a compaixão, o respeito e alegria sejam protagonistas.

Título: Cartas entre amigos - sobre ganhar e perder
Autor: Fábio de Melo e Gabriel Chalita
Editora: Globo
Genero: Interesse Geral
Páginas: 232
Formato: 16 x 23 cm
ISBN: 978-85-250-4840-0


Onde comprar???

Submarino - R$ 24,90
Americanas - R$ 24,90
Saraiva - R$ 25,90
Siciliano - R$ 25,90
Livraria Cultura - R$ 34,90
Globo livros - R$ 39,90

"Cartas entre amigos - sobre ganhar e perder" - primeiras cartas...

Primeira carta

Querido irmão padre Fábio,

Depois de alguma pausa, voltemos à nossa prosa.

No fluxo de nossa vivência, vamos aquinhoando experiências. Nossos olhares são capazes de reter considerações que vão moldando o que somos. A imagem surge como os sentidos captando impressões. Depois dela, vem o conceito. O conceito é o que permanece quando a imagem se esvai. É como o conhecimento que fica com o avançar da aprendizagem. Lançamos mão de excessos para que a viagem fique mais leve ou para que o compartimento dos nossos sentidos receba outros companheiros. O bom conceito é aquele que traz a companhia da bondade, da gentileza, do respeito, entre outros avidamente esperados.

Esperamos como necessidade vital. Esperamos o amanhecer. Esperamos o entardecer. Esperamos a demorada cicatrização da incômoda ferida. Esperamos um amor. Esperamos compreensão. Compreensão apenas, amigo. Guimarães Rosa dizia que “esperar é reconhecer-se incompleto”. É na consciência de nossa incompletude que a espera ganha mais significado. O futuro existe.

Esperamos uma humanidade mais evoluída em que os direitos mínimos dos humanos sejam respeitados. Uma humanidade fraterna.

Quantos crimes bárbaros assombram nossos irmãos!

Sabe, amigo, certa feita, em um congresso de direitos humanos, presenciei uma jurista indignada com os horrores praticados na Tanzânia contra os albinos. Descrevia com tamanha dor o que passam nossos irmãos e tentava nos acordar do sono do comodismo. Sim, porque parece que a dor alheia não nos pertence e que, portanto, não cabe a nós o exercício do agir. Aliás, não precisamos ir até a África para perceber a nossa pouca ação. Basta olhar ao lado.

O albinismo é um tipo de deficiência na produção de melanina. Os albinos têm a pele pálida, esbranquiçada, têm o cabelo fino e uma sensibilidade maior nos olhos, que sofrem quando estão expostos à luz. Ocorre que há uma superstição medonha que afirma que eles servem para rituais de mandingas. Isso não acontece apenas na Tanzânia, mas em outros países da África. Esses feiticeiros chegam a pagar uma verdadeira fortuna, em se considerando a pobreza desses países, por um pedaço do corpo de um albino. Se for de criança, o valor é maior. Vendem línguas, braços, genitálias, pernas etc. Dá sorte beber o sangue de um albino ainda quente, é o que acreditam. Fico imaginando o pavor dos pais quando os filhos demoram a voltar. A ansiedade em proteger a prole. Fico imaginando a prática macabra. São humanos caçados como animais.

Não estamos falando de uma outra era nem de ficção. Enquanto rabisco essas palavras, há pânico em algum lugar do mundo na luta pela sobrevivência. Sentem-se vencedores esses caçadores de gente, como se sentem vencedores os homens com as pedras nas mãos para dar cabo da vida de mulheres condenadas em países cuja legislação afirma ser o direito à honra superior ao direito à vida. Mulheres abusadas por uma sociedade machista cheia de preconceitos, embrutecida pela impiedade. A cena de uma mulher enterrada até a cintura sempre me causou angústia. Fica assim, com as mãos amarradas, para não proteger o rosto das pedras jogadas sem comiseração. Em algumas comunidades, o início do apedrejamento se dá com pedras menores para que a dor seja prolongada. Uma pedra maior poderia ser fatal e o divertimento teria menor duração. As pessoas vão aos montes para assistir e participar. É como uma festa, uma diversão qualquer. Assim faziam aqueles que saíam às ruas para ver as pessoas sendo guilhotinadas ou queimadas ou enforcadas. Essas penas corporais, capitais, perduraram durante muito tempo. Como também
as arenas em que eram jogados os cristãos para serem mortos pelos leões. E o público assistia e ria do pavor com que corriam de um lado a outro até serem devorados. Que prazer estranho é esse? Que deturpação do conceito de conviver? E a compaixão? Os gladiadores não fazem parte do passado. O “vale-tudo” arrasta multidão para torcer pelo mais forte. Quanto ao mais fraco, merece risos, vaias, desprezo. É apenas um perdedor. A sua dor parece incomodar menos do que a sua fragilidade; afinal, o espetáculo terminou mais cedo. Há ainda os jovens em bando que, desafiados, são capazes de espancar até a morte quem cruza o seu caminho. Ou queimam moradores de rua para amainar o tédio. Ou buscam um diferente qualquer para humilhar, destruir, matar. Meu Deus, mas não pertencemos à mesma humanidade? Quando um membro sofre, não é o corpo todo que sofre?

Amigo, desculpe-me começar com essas cinzentas paisagens esta nossa nova prosa. Mas a verdade é que me sinto hipócrita em conviver com uma sociedade que tolera essas práticas como se fizessem parte da cultura ou da vida. A cultura não pode destruir a vida, ao contrário, tem de preservá-la. Evidentemente, crueldades acontecem todos os dias nas esquinas do nosso país. Há crianças sendo violentadas por quem deveria protegê--las. Há mulheres sendo espancadas pelos maridos, há crimes brutais, há miséria. Mas me parece que pelo menos nossas leis são um pouco mais respeitosas com os direitos humanos. Embora, na prática, a realidade seja outra. Veja, por exemplo, a vida nas penitenciárias e nos espaços de privação de liberdade para adolescentes. Leis corretas, práticas medonhas. Além do mais, a nossa acomodação faz com que cruzemos os braços
diante do anseio de um recomeço que têm os egressos do sistema penitenciário, por exemplo. Temos o bom discurso da segunda chance. Mas, na prática, nos escondemos. São perdedores, padre. São perdedores esses que caíram nas malhas da criminalidade. E nós, os vitoriosos, não devemos nos macular com eles. Que pena!

Gostaria tanto de mudar essa realidade. Sei que é difícil. Algumas questões envolvem uma mudança de postura mundial. A paz ainda é uma utopia. Cuidar da pessoa humana toda e de todas as pessoas humanas é o sonho do papa Bento xvi, em sua Encíclica mais recente. A globalização da economia e das informações não significou a universalização da fraternidade. Estamos engatinhando ainda em matéria de respeito. Fazemos pouco ou praticamente nada contra o recrudescimento da violência. E não precisamos ir longe. A dor mora bem ao lado, como dissemos.

Uma vez, em um metrô lotado de pessoas apressadas, vi uma menina com uma boneca na mão, cabelos cacheados e um olhar triste, de mãos dadas com um pai cuja rudeza no olhar não escondia a pouca paciência com os passos lentos da filha. Puxava-a como se fosse um objeto enroscado. Sua pressa contrastava com a fragilidade da pequena. Olhou-me em algum momento. Ensaiei alguma conversa. O metrô parou. O pai a puxou e desceram. Fiquei por algum tempo imaginando a história familiar dos dois. A menina parecia triste. Podia ser apenas uma impressão minha. Mas ela passava-me tristeza, e ele, rudeza. Não tinha o poder de intervir. Ali não havia crime algum a não ser a criminosa falta de cuidado, de afeto. Fiquei conjecturando sobre a casa em que moravam, se tinha mãe a menina. Se tinha irmãos. Se o pai era agressivo. E, se fosse, como eu haveria de saber? Tenho essa mania, amigo, de tentar imaginar a vida dos outros. Aliás, esse é o nome de um filme alemão de 2006, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro, que conta a história de um alto funcionário da Alemanha Oriental, incumbido de vigiar um dos maiores dramaturgos do país. Aos poucos, envolvido na trama de emoções que ele e sua mulher viviam, o antes impiedoso funcionário, acostumado a torturar para obter uma prova, se transforma. Um homem que não chorava passa a chorar; que não sorria passa a sorrir. A imagem foi moldando um novo conceito em sua história. Bastou o contato com o amor cotidiano para a metamorfose.

Querido padre Fábio, há um desafio diuturno de não desistir da pessoa humana. Por mais dolorosas que sejam as nossas experiências. É preciso não desistir. Norberto Bobbio em A era dos direitos afirma que “o problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los”.

Descreve, na mesma obra, convenções e tratados internacionais que tratam dos direitos da pessoa humana genericamente ou especificando as vítimas de preconceito como as mulheres, os negros, os pobres, entre outros. Direitos do homem, democracia e paz são processos que não podem ser encerrados.

Vamos um pouco além. Por que ainda não aprendemos a conviver com as diferenças? Medo? Ausência de amor?

Falemos de amor na poesia leve de “Um soneto”, de Guilherme de Almeida:

Ama, quieto e em silêncio. É tão medroso
o amor, que um gesto o esfria e a voz o gela.

Não. O amor não é medroso. O poeta brinca apenas com a vulnerabilidade dos sentidos ao emprestar “O eco” à vida:

Perguntei à minha vida:
– “Como achar a apetecida
felicidade absoluta?”
E um eco me disse:
– “Luta!”

Lutei. – “Como hei de a esta pena
dar a cadência serena
que suaviza, embala e encanta?”
O eco, então, me disse:
– “Canta!”

Cantei. – “Mas, como, num verso,
resumir todo o universo
que em mim vibra, esplende e clama?”
então, o eco me disse:
– “Ama!”

Amei. – “Como achar agora
a alma simples que eu pus fora
pelo prazer de buscá-la?”
O eco, então, me disse:
– “Cala!”

Calei-me. E ele, então, calou-se.
Nunca a vida foi tão doce...
Tudo é mais lindo a meu lado:
Mais lindo, porque calado.

Lutar, cantar, amar e calar... assim queria o poeta. Lutar para que os desvarios mundanos não roubem nossa sensibilidade. Cantar a canção da dor e a canção do amor. Cantar pelos que, empedernidos, já não conhecem os acordes. Cantar por aqueles que impedem a canção alheia. Cantar o silêncio dos que não têm voz ou vez. Amar como ação necessária de encontros e paisagens. Contemplamos o mundo para conhecê-lo e transformá-lo. E calar? Mas como calar diante das feridas abertas da injustiça e da destruição do nosso irmão? Calar para, como Maria, a mãe da esperança, escutar a boa-nova, a missão e então agir.

Irmão querido, não é possível agir sem antes sentir. Aqui falo da vitória do sentimento sobre a insensibilidade. Da canção de liberdade que carece de intérpretes.

Ainda criança, em uma excursão para um parque de diversões, experimentei a dor preenchendo o meu tal fluxo de vivências. A história se deu mais ou menos assim. Éramos um ônibus de crianças conduzidas por dois ou três professores. Chegamos ao parque. Os brinquedos nos deixavam alucinados. Era emocionante para nós, meninos interioranos, explorar o grande parque de diversões da capital. A adrenalina misturava-se à alegria e à molecagem. Assim, furávamos fila. Discretamente. Tínhamos a desculpa da pouca idade. E tudo era festa. Até que, quase no horário do retorno, furamos mais uma vez a fila de um brinquedo chamado Montanha Encantada. Eu e mais uns quatro. Quietinhos, entramos; e quietinhos, ficamos. Uma mulher, entretanto, não se conformou com nossa audácia e começou a dizer as piores ofensas. Ela tinha razão, então nos fizemos de distraídos. Foi quando um homem resolveu nos defender. Alegou que éramos crianças nos divertindo. A mulher ficou ainda mais irritada dizendo que exatamente por sermos crianças é que deveríamos ser corrigidos. Ele tentou dizer alguma coisa e ela soltou um sonoro “cala a boca”. Ele retrucou e ela avançou sobre o homem. Deu um tapa em sua cara. Ele retribuiu. E nisso chegou o marido dela. E uma confusão tomou conta daquela fila. Vieram os seguranças e nós saímos correndo em direção ao ônibus. Chegamos ofegantes. Cheguei entristecido. Eu sabia que não devia furar fila. E o que mais doía é que o homem que tinha me defendido estava agora em uma situação ruim. Contei a história meio choramingando a um dos professores e ele, vendo meu pânico, a piorou. “Parece que mataram o homem.” Meu Deus, como sofri naquela viagem. Tinha vergonha de chorar. Escondi-me de mim mesmo aos oito ou nove anos de idade. Cheguei em casa angustiado. Quando vi meu pai, abracei-o e chorei muito antes de conseguir contar a história. Meu pai primeiro me abraçou em silêncio, depois encontrou uma saída para aliviar a minha preocupação. “Filho, vamos ver a notícia na televisão. Se o homem morreu, eles mostram. Se não mostrarem, é porque nem machucado ele ficou.” Eu acreditei. E fiquei de mãos dadas com ele até a última notícia.

Ah, pai amado, quanta sabedoria na sua simplicidade! Padre, como é importante termos espaços para narrarmos as nossas perdas em casa. Pais que nos escutem primeiro para depois apontar outros horizontes. Meu pai era assim, resolvia comigo as minhas dores. Era preciso sentar ao lado dele para que pudéssemos descobrir juntos o desfecho. Ele não ridicularizava a minha dor. Era uma brincadeira do professor, apenas. Mas não importava. Se eu estava sofrendo, era preciso respeitar. E, depois do alívio, o ensinamento. “Filho, nessas horas a gente aprende que é bobagem fazer a coisa errada.” E mais nada. Um sorriso. Um beijo de boa noite. E mais nada. E do que mais eu precisava naquela noite intranquila? Da segurança de suas mãos grandes. Meu pai tinha mãos grandes e nós brincávamos de ver quanto faltava para que minhas mãos superassem as suas. Um dia, as minhas mãos ficaram maiores. No começo, eu as encolhia um pouco para que as suas mãos continuassem sendo as vitoriosas.

Amigo, no dia em que ele morreu, brincamos um pouco antes, no hospital, de ver quem tinha a maior mão. Novamente, encolhi um pouco a minha para que ele ganhasse. Do alto dos seus 84 anos, ele me disse: “Filho querido, eu sei que a sua mão é muito maior do que a minha, mas isso não é um problema para mim, ao contrário”.

Essa não era a admissão de uma derrota. Era a sua vitória. Meu pai queria que eu crescesse e não competia comigo. Minha vitória era a sua vitória. Minhas inquietações eram acalentadas em sua paciência. “Paciência, filho”, era quase que uma jaculatória. Quando alguma coisa não saía do jeito que eu queria, “paciência, filho”; quando a doença chegava e alguns planos tinham de ser desfeitos, “paciência, filho”. Até nas derrotas bobas do meu time de futebol. Eu chegava em casa cheio de desculpas por ter perdido, e ele ouvia, e depois lançava, “paciência, filho”. É, pai, como esta virtude faz falta: paciência.

Paciência não como acomodação. Voltemos ao poeta. Calar é contemplar o que precisa ser mudado para depois lutar, combatendo o bom combate, e depois cantar uma canção nova e aí, então, amar. E calar novamente. Sim, amigo, é no silêncio dos nossos porões que habitam muitas razões.

Volto às imagens e aos conceitos. Ganhar ou perder são imagens que temos de momentos que vivemos e de pessoas com as quais nos surpreendemos. Não sei, amigo, se você tem medo das perdas ou das pedras que surgem por aí. Ou se a paciência já é convidada do seu alimento diário. Persigo a paciência como persigo a inquietação. Não quero deixar as coisas como estão. Quero mudar o mundo, sim, e para isso preciso também da paciência. E da cumplicidade. Sozinho, sou incapaz de prosseguir, até porque os medos contemporâneos não me abandonaram. Sozinho, sou capaz de desistir. Nessa tessitura social, é necessário o encontro de ideias e ideais. E assim ouço você. Sua canção de liberdade, sua sensibilidade diante da dor alheia. Eu não quero conviver passivamente com a crueldade. Quero a coragem de Ester, que se aproxima do rei Assuero decidida a salvar o seu povo. O medo não foi mais forte do que a decisão. E ela venceu. Não venceu apenas porque ele estendeu o cetro e poupou-lhe a vida. Venceu porque protegeu a vida dos seus irmãos. Venceu porque entrou para a história como alguém que se importou com os outros. Essa é a grande vitória. E ela não será alcançada se passarmos os dias diante do espelho e, diante do espelho, reparando nas mudanças que o tempo é capaz de fazer sem pedir a nossa autorização. A alma enrugada é que é o problema. Envelhecemos prematuramente pela ausência de um tema. Um tema que nos conduza a viver. E aí sim vem a derrota. As outras são contingências. Fazem parte da margem, apenas.

Padre Fábio, termino estes rabiscos ansioso por notícias suas. Notícias do seu olhar para a humanidade. Sei que, como sacerdote e como poeta, também sofre com a dor alheia. Ouço suas pregações emocionadas quando o assunto é o calvário da humanidade. O calvário dos crimes que vemos por aí e o calvário da mulher traída, humilhada, que soluça silente a sua dor.

Suas composições nascem de sua compaixão. E seu repertório empresta um tema àqueles que por razões menores desistiram de viver. Tudo, menos isso. Desistir de viver, não! A terra precisa de semeadores, embora a rede seja aparentemente mais agradável. Na rede, o descanso merecido. Passar a vida na rede enjoa. O balanço agrada um tempo. Muito tempo deprime. Balancemos nosso deitar como a simples espera do levantar. E mais nada. Levantemos, amigo. A plantação está linda, mas há algumas pragas que temos de lançar fora.

É o momento de vencer. O trigo tem de vencer o joio para que o alimento chegue até a mesa. E para que a mesa seja uma celebração que alimenta o corpo e os sentimentos.

Obrigado pela espera e pela atenção. A pausa foi só na escrita.

Somos irmãos ininterruptamente...

Com o renovado carinho,

Gabriel



Segunda carta

Meu querido Gabriel,

Obrigado pelas palavras. Não é sempre que podemos receber uma fala tão sábia e sugestiva. Gosto de reconhecer nos discursos humanos as palavras geradoras. Em meio a tantas outras, elas saltam aos olhos, sugerem mais algumas, despertam o desejo de refletir, ir adiante.

Há discursos extensos que não nos presenteiam com palavra alguma. É a fala infértil, prolixa, redundante. Não agrega absolutamente nada ao que somos, mas ao contrário é capaz de nos retirar a alegria e a disposição. Neste mundo em que vivemos, é muito comum nos depararmos com discursos assim. Mas há outros que são ricos de palavras geradoras. São construídos a partir de uma visão holística da realidade, capaz de abarcar inúmeros aspectos numa mesma trama de palavras. É o discurso que não abre mão da sensibilidade, que realiza a proeza de colocar na mesma pauta razão e emoção.

Meu amigo, sua carta é um celeiro de palavras geradoras. Seu olhar sobre o mundo é profundo e respeitoso. A raiz de tudo isso é o amor que você tem pela humanidade. Não é possível refletir as questões fundamentais da comunidade humana sem que por ela exista amor e respeito.

Só o amor nos autoriza uma aproximação dos calvários do mundo. Ele é o elemento que impede a banalização, pois resguarda, envolve e protege o sagrado que por trás da dor se esconde.

Vez em quando vejo o sofrimento humano sendo usado como mecanismo. É lamentável. É afrontoso. A lágrima da mãe que perdeu o filho num soterramento é usada para ganho de audiência em programa de televisão. Não, não há comprometimento com o fato. O único desejo é aproveitar o acontecimento e transformá-lo em pauta para a manutenção de uma programação fútil. Não importa o quanto o outro sofre. O que importa é o quanto os índices de audiência subirão no momento em que a dor for exposta.

Gabriel, sua carta chegou num momento oportuno. Foi seguindo a trilha que suas palavras me sugeriram que pude adentrar o contexto de uma reflexão pertinente e necessária. A condição humana será sempre bem-vinda às nossas reflexões. Será sempre a base de uma boa prosa, afinal, toda vez que sobre ela refletimos, de alguma forma estamos alterando o que somos.
Antes de qualquer coisa, eu gostaria de salientar a satisfação que tenho de novamente estabelecer este vínculo. A carta é um mecanismo maravilhoso que nos proporciona a experiência do encontro.

Sua carta me fez recordar da ágora, a praça grega que foi lugar onde as experiências filosóficas ganharam caráter dialético. A ágora era um lugar de encontro. A principal atividade que os gregos exerciam por lá era a troca de mercadorias. Mas, naquele grande mercado a céu aberto, uma outra troca acontecia a ponto de prevalecer sobre as outras. Era a troca de ideias. Enquanto a materialidade era negociada sempre sobrava espaço para uma conversa, uma troca de opiniões.
Tive um grande professor de História da Filosofia que fazia questão de nos dizer que foi na ágora que a filosofia assumiu o seu verdadeiro papel na sociedade. A filosofia do cotidiano, a reflexão nossa de cada dia. A arte de articular o pensamento como realidade dialética, que extrapola a verdade hermética, fechada, mas que se abre à percepção do outro.

A filosofia que é construída a partir da vida concreta das pessoas. A trama da existência e seus fios tão cheios de nuances. A filosofia como tear que tece e favorece a compreensão do entrelaçamento das linhas.

Sua carta apresentou tantas questões que merecem ser refletidas. Fiquei assustado com a questão que envolve os albinos da Tanzânia. Eu desconhecia aquela tradição mórbida. É lamentável que nos dias de hoje ainda tenhamos que admitir tamanho absurdo. O fato nos leva a compreender que, em muitos lugares do mundo, o respeito ao ser humano ainda não aconteceu. Ele ainda está condicionado a fatores culturais. Está restrito, limitado.

Confesso que a desesperança é o caminho mais atraente. Ao me deparar com relatos como esse, minha primeira reação é desesperar. É bem mais simples. Chego à conclusão de que nossos braços são curtos demais para abraçarem o mundo. Podemos muito pouco diante de tanta dor, tanto sofrimento. Mas é no impulso dessa desesperança que eu me recordo que a Tanzânia também é aqui. Não preciso ir longe. Há realidades muito próximas de mim que também são desumanas. Mas há uma diferença. Aqui eu posso agir. Não há limites linguísticos, geográficos, nem tampouco culturais. Tenho diante dos meus olhos injustiças e sofrimentos que falam a minha língua. Não se trata de pessoas que estão distantes de mim, assim como estão distantes as estrelas. Não tenho delas apenas um tênue brilho de notícia. Elas estão concretamente posicionadas nas esquinas de minha cidade. Moram em casebres que meus olhos alcançam; frequentam os mesmos lugares que eu; trabalham na guarita do prédio onde moro.

Gabriel, só assim o mundo pode ser diferente. Só dessa forma podemos prestar socorro aos desvalidos do nosso tempo. Há uma dor que mora ao lado. Há uma injustiça que é nutrida pelo mesmo ar que nos sustenta. É dela que precisamos nos ocupar. Se não temos como mudar a situação dos albinos africanos, resta-nos fazer justiça às injustiças que todos os dias batem à nossa porta.

Você falou de esperanças. Concordo com você. Só a esperança pode nos alimentar nessas ações. A esperança não nos deixa esmorecer. Ela nos posiciona diante da dureza da realidade humana de forma sempre nova. Gabriel, o mal não dá tréguas. Vejo as teias da maldade sendo lançadas sobre nós. É impressionante o número de pessoas que estão comprometidas com a disseminação do mal. Volto a dizer. O caminho mais fácil é desanimar. Mas não creio que seja o mais honesto. Precisamos buscar imunidade contra todos esses males. Caso contrário, nós também desanimaremos.

Assim como a mãe vacina o filho para imunizá-lo contra uma infinidade de vírus, da mesma forma nós também precisamos ser vacinados contra a maldade que está presente no mundo. A maldade é sedutora. Ninguém está livre dessa contaminação. Por isso precisamos tanto buscar essa resistência diária. É uma questão de sobrevivência.

A maldade é uma arma que permanece apontada. Há sempre uma pessoa que se dispõe a apertar o gatilho. Vez em quando somos terrivelmente atingidos por ela. É nessa hora que precisamos sobreviver. Tudo dependerá do quanto já estamos, ou não, imunes a seu poder agressor.

Meu amigo, eu busco essa imunidade nas palavras. É simples. Necessito de palavras assim como necessito de pão. É uma questão de sobrevivência. Tenho fome de pão, mas também tenho fome de palavras. Gosto muito da passagem bíblica que diz que “nem só de pão vive o homem”. É verdade. Há outras fomes que precisamos alimentar.

A fome do corpo é facilmente notada. Ela se manifesta de forma determinante, aparente. O corpo que carece de alimento manda os seus sinais. A exterioridade é o território das manifestações. Não é possível esconder por muito tempo a fome física.

Nos tempos idos de minha infância, a minha mãe tinha uma expressão interessante para diagnosticar a nossa fome. Ela nos falava. “Vai comer alguma coisa porque você está muito descaído!” Eu sempre obedecia. Tinha medo de ficar “descaído”.

Talvez seja por isso que eu seja muito atento às fomes do corpo. Faço questão de favorecer a saúde através dessa pequena disciplina. Os especialistas salientam que é importante que o ser humano não passe períodos prolongados sem a ingestão de alguma forma de alimento. Essa atitude, segundo eles, acelera o metabolismo do corpo. Metabolismos acelerados são importantes
para a manutenção de uma vida saudável.

Creio que a mesma regra valha para a vida intelectual. Tão importante quanto alimentar o corpo é alimentar a alma. É claro que essa divisão “corpo e alma” é meramente didática. Creio na integralidade humana. Somos corpo e alma. É no corpo que a alma experimenta o mundo. É através da alma que o corpo transcende sua materialidade. Ao me referir à condição humana, eu não secciono, mas integro.

Uma boa reflexão acelera o metabolismo da alma. A palavra é o elemento fundamental para que isso aconteça. As imagens que vemos estão diretamente ligadas com as palavras que conhecemos.

As palavras alimentam realidades menos visíveis. Entram na mente e se perdem nos místicos emaranhados da alma. Pão e palavra possuem missões semelhantes. O corpo metaboliza o pão. Dele faz fonte de energia. Da mesma forma, a alma faz com a palavra.

Meu amigo, como é instigante esse processo. Nós nos transformamos no que comemos. O alimento é integrado pelo corpo. É por isso que insisto tanto na necessidade de sermos mais cuidadosos com a escolha dos nossos alimentos. Escolher o que vamos comer é escolher o que seremos. Nossa saúde depende dessa escolha.

O mesmo acontece com nossa vida intelectual. O cérebro é o lugar onde as ideias são metabolizadas. Ideias estão diretamente ligadas ao contexto das palavras. São elas que entrarão em nossa vida. São elas que nortearão o que somos e o que seremos.

Sei que você sabe disso, mas é bom repetir. Uma boa reflexão pode mudar o rumo de uma vida. Vejo isso o tempo todo. As pessoas erram muito porque refletem pouco. Sofrem muito porque não administram de um jeito certo as causas que as fazem sofrer. Escolhem errado, vivem errado, amam errado. Tudo porque faltou reflexão.

Muitos erros são gestados e mantidos a partir de atitudes irrefletidas, meu caro amigo. Por isso eu creio firmemente que a religião que praticamos só pode ser benéfica se nos fizer refletir. Caso contrário é alienação, esquecimento da realidade.

A vida humana é um território onde prevalecem muitas contradições. Sempre foi assim. Faz parte de nossa condição. É estatuto que trazemos na carne. Somos contraditórios.

Essa contradição nos atinge o tempo todo. Você enumerou vários sofrimentos que nascem dessas contradições. Como pode um ser humano se sentir no direito de esquartejar o outro? Mistérios da contradição. É nessa hora que entra a força transformadora da reflexão. Uma sociedade só poderá evoluir culturalmente à medida que refletir a cultura que possui.

É estranho, mas há muitos comportamentos e tradições que são mantidos sem que suas causas sejam conhecidas. Tive contato com uma história assim lá no interior de Minas Gerais. Havia uma família que tinha uma receita muito saborosa para o preparo de um peixe típico daquela região. A tradição já havia atingido a terceira geração. O fato interessante é que o peixe era sempre assado sem a cabeça. Ninguém nunca havia se questionado sobre o fato. Quem o fez foi uma das meninas, que pertencia à terceira geração.

Ao ser perguntada sobre a razão de o peixe ser assado sem a cabeça, a mãe da menina disse não saber. A resposta foi simples. Sua avó me ensinou a assar assim. A menina, por sua vez, resolveu ir fundo na investigação. A avó respondeu da mesma forma. Aprendi com sua bisavó. Tendo a oportunidade de perguntar o motivo à bisavó, a menina finalmente resolveu o enigma do peixe sem cabeça. Não há razão alguma – disse a velha senhora. É que, no tabuleiro que eu tinha, o peixe nunca cabia inteiro.

Acho interessante essa história. Nem sempre a manutenção de uma tradição está amparada em motivos consistentes. O tempo passou, os tabuleiros cresceram, mas os peixes continuaram sendo assados sem as cabeças.

Gabriel, muita coisa seria diferente se pudéssemos retomar os encantos da ágora. As pessoas seriam mais felizes, mais equilibradas, mais justas se estivessem mais dispostas à reflexão.

A vida ganha novo sentido cada vez que uma boa palavra vem iluminar as varandas da nossa mente. Uma boa palavra é como um bom alimento. Traz saúde.

Obrigado pela saúde que suas palavras me trouxeram. Volte sempre. Ficarei por aqui, enquanto faço essa boa digestão emocional.

Com meu carinho e bênção,

Pe. Fábio de Melo

terça-feira, 20 de abril de 2010

Padre Fábio de Melo abre festa de Nova Venécia (ES)

Em comemoração aos 56 anos de Nova Venécia, começa nesta terça (20) a tradicional festa de aniversário da cidade que vai até domingo (25) e terá a presença do Padre Fábio de Melo para o primeiro show do evento.

Tudo é do Pai e Vida são algumas das músicas de maior sucesso de sua carreira, que estão nos últimos álbuns "Vida" e "Eu e o Tempo".

Nos próximos dias, o evento terá shows de Daniel, Skank e Parangolé, além de diversas apresentações regionais.


Quando: terça (20), às 22h
Onde: Parque de exposições – av. Guanabara, Bairro Cohab, Nova Venécia (ES)
Quanto: grátis
Informações: (27) 3752-9000


Fonte: R7

domingo, 11 de abril de 2010

Comunicado

Em virtude dos últimos acontecimentos na cidade de Niterói, estarei temporariamente afastada da internet.
As atualizações serão postadas na medida do possível.
Obrigada a todos pela ajuda e pelo apoio.

Carla Balthazar

Maiores informações http://twitter.com/carlabalthazar