Indústria fonográfica encolhe e comemora venda de 100 mil unidades
THIAGO NEY da Folha de S.Paulo01/01/10 - 8h23
O disco mais vendido no Brasil em 1993 foi o álbum homônimo de Zezé di Camargo & Luciano lançado naquele ano. O disco mais vendido do Brasil em 2009 (até outubro) é o álbum homônimo de Zezé di Camargo & Luciano lanç
ado em 2008. Os sertanejos (e os religiosos) ainda dominam o ranking, mas com uma diferença: o mercado da música encolheu. E muito.
Em 1993, Zezé di Camargo & Luciano venderam 950 mil cópias de seu disco. Entre janeiro e outubro de 2009, o álbum da dupla foi comprado por 218 mil.
Se, nos anos 1990, a década de ouro da indústria fonográfica, era comum para vários artistas lançarem discos que ultrapassavam o 1 milhão de cópias vendidas, hoje se um álbum bater nos 100 mil os executivos de gravadoras dão piruetas segurando taça de champanhe.
Até outubro de 2009, depois de "Zezé di Camargo & Luciano", os mais vendidos no país foram "Eu e o Tempo", do padre Fábio de Melo (189 mil), "I Am... Sasha Fierce", Beyoncé (182 mil), "Borboletas", Victor & Leo (172 mil), e a coletânea "Promessas" (164 mil).
"Em 1997, antes da 'grande crise', tínhamos várias vendas de 1 milhão ou mais. Artistas como padre Marcelo Rossi e o Só pra Contrariar chegavam aos 3 milhões de discos vendidos", relembra Alexandre Schiavo, presidente da Sony.
A "grande crise" da indústria da música começou em 1998, com o crescimento da pirataria de CDs, e foi (ainda está sendo) inflada pela pirataria digital.
O grande ano fonográfico no Brasil foi 1997. O mercado movimentou US$ 1,2 bilhão, a partir de vendas de 104 milhões de unidades (de CD, cassete e LP).
Em 2008, segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), esse mercado ficou em US$ 205 milhões (incluindo CD, DVD e arquivos digitais). Em 11 anos, um encolhimento de US$ 1 bi.
Assim, fica a pergunta: o que significa "vender muito" hoje? Como traduzir "fazer sucesso"?
"Depende bastante do artista", afirma Leonardo Ganem, presidente da gravadora Som Livre. "Para um artista consagrado, acima de 50 mil cópias. Para um artista novo, a expectativa é menor, 10 mil cópias."
Disco de platina
Mais um indicador da retração do mercado. Até janeiro de 2004, para ganhar o certificado "disco de ouro", um álbum precisava vender 100 mil cópias. Para "disco de platina", 250 mil. Atualmente, "disco de ouro" significa 50 mil cópias, e "disco de platina", 100 mil.
A diminuição de parâmetros, para Marcelo Castello Branco, presidente da EMI Music Brasil e América Latina, não é encarada com pessimismo.
"O mercado mudou muito, não se define mais pelo número de cópias vendidas. Hoje, ele está intimamente ligado às características dos contratos que firmamos com os artistas. A rentabilidade não é mais definida pelo número de cópias físicas vendidas. Hoje temos maior rentabilidade com vendas menores, diversificação de investimentos, além do crescimento do mercado digital. Nos adaptamos ao novo mercado."
Segundo a ABPD, em 2008 o formato CD respondeu por 61% do faturamento; o DVD, por 27%; o digital, por 12%.
"Acredito na convivência dos mercados físico e digital: eles são complementares, nunca excludentes. A substituição do sentido de posse pelo de acesso trouxe mudanças no comportamento do consumidor. Temos de levar em conta a realidade socioeconômica do Brasil, sobretudo o crescimento da classe C durante o governo Lula, além da política de inclusão digital que foi adotada", aponta Castello Branco, da EMI.
O mercado de venda de discos diminuiu, mas ainda há os best-sellers. Segundo Leonardo Ganem, da Som Livre, "os sertanejos e os religiosos sempre vão bem. E a novela ainda é uma franquia muito boa".
Para os independentes, o encolhimento reflete em números mais modestos do que os das gravadoras grandes. "Ao lançarmos um CD de um artista internacional, nos contentamos com venda de 5.000 peças. Já para um nacional seria entre 10 mil e 30 mil", afirma Marcelo Affonso, diretor do selo ST2.
Fonte: Folha Online
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